Vem
1.
lá fora chove
a noite grita açoitada pelo vento
as ruas acoitam-se no vazio
e as árvores inclinam-se
num desassossego de braços como se fossem poemas
prestes a explodir na sede dos dedos
prestes a quebrar nas hastes do medo
nem um carro nem um só corpo
cruzando a solidão
a cidade perdeu a alma
liquefez-se em bruma
e só a espaços
no lancinante grito das sirenes
os bombeiros parecem lutar
contra a intempérie acudindo aos relâmpagos
que se deitam sobre os telhados
às enchentes que ameaçam
as mãos agarradas ao medo
vem
não fujas não te escondas
debaixo dos lençóis é apenas o mundo
em convulsão e esse branco
ainda com cheiro a amaciador e goma
não é mais do que uma frágil luz
que um só lamber de frio
a todo o instante
virá quebrar
por isso
vem
não tapes os ouvidos com as mãos
não ponhas o som da televisão mais alto
não te enganes com a música
e as estratégias habituais dos psiquiatras
(quase sempre de perfis psicopatas)
esquece naturalmente as avé marias
quando muito substitui-as por comprimidos
a horas certas a ver se o mundo
amaina e não desaba sobre nós
aceita antes que a noite é a nossa mais
cristalina certeza
que sempre virá por nós
que uma tempestade é apenas um sinal
e que os seus braços cegos
como insectos bruxuleando contra a luz
das lâmpadas sempre te encontrão
tal como as águas que escorrem lá fora
conhecem já o caminho do mar
desdenhando as distâncias as curvas e
contracurvas as rotundas os sinais
de trânsito
(mesmo que de sentido proibido)
não não mudes o canal
(o mundo aí não é mais belo)
isso quando muito fuma um cigarro
ilumina a tua paz
e vem deitar-te aqui
junto ao meu peito onde o vento
não bate a chuva não corre e os trovões se detêm
vem traz o frio e o choro
cerra os olhos se quiseres
inspira bem fundo
entrega-me o teu medo
exila-te da tua pele por inteiro oferece
todos os teus temores
tranca as janelas corre as persianas
vem
e sorri
com os olhos na tempestade
olha-a com olhos cúmplices
de tormenta
sabe e aceita
que a vida é uma lágrima
uma tempestade
um relâmpago
um trovão
uma noite
vem chora vai passar
a noite vai passar
tudo vai passar
toma o meu peito
bebe do seu branco
não deixes que o sangue
se aproxime do coração em demasia
olha vê ali lá fora
vês?
vês a chuva já em cinzas?
apaga o cigarro
vem
lá fora chove
a noite grita açoitada pelo vento
as ruas acoitam-se no vazio
e as árvores inclinam-se
num desassossego de braços como se fossem poemas
prestes a explodir na sede dos dedos
prestes a quebrar nas hastes do medo
nem um carro nem um só corpo
cruzando a solidão
a cidade perdeu a alma
liquefez-se em bruma
e só a espaços
no lancinante grito das sirenes
os bombeiros parecem lutar
contra a intempérie acudindo aos relâmpagos
que se deitam sobre os telhados
às enchentes que ameaçam
as mãos agarradas ao medo
vem
não fujas não te escondas
debaixo dos lençóis é apenas o mundo
em convulsão e esse branco
ainda com cheiro a amaciador e goma
não é mais do que uma frágil luz
que um só lamber de frio
a todo o instante
virá quebrar
por isso
vem
não tapes os ouvidos com as mãos
não ponhas o som da televisão mais alto
não te enganes com a música
e as estratégias habituais dos psiquiatras
(quase sempre de perfis psicopatas)
esquece naturalmente as avé marias
quando muito substitui-as por comprimidos
a horas certas a ver se o mundo
amaina e não desaba sobre nós
aceita antes que a noite é a nossa mais
cristalina certeza
que sempre virá por nós
que uma tempestade é apenas um sinal
e que os seus braços cegos
como insectos bruxuleando contra a luz
das lâmpadas sempre te encontrão
tal como as águas que escorrem lá fora
conhecem já o caminho do mar
desdenhando as distâncias as curvas e
contracurvas as rotundas os sinais
de trânsito
(mesmo que de sentido proibido)
não não mudes o canal
(o mundo aí não é mais belo)
isso quando muito fuma um cigarro
ilumina a tua paz
e vem deitar-te aqui
junto ao meu peito onde o vento
não bate a chuva não corre e os trovões se detêm
vem traz o frio e o choro
cerra os olhos se quiseres
inspira bem fundo
entrega-me o teu medo
exila-te da tua pele por inteiro oferece
todos os teus temores
tranca as janelas corre as persianas
vem
e sorri
com os olhos na tempestade
olha-a com olhos cúmplices
de tormenta
sabe e aceita
que a vida é uma lágrima
uma tempestade
um relâmpago
um trovão
uma noite
vem chora vai passar
a noite vai passar
tudo vai passar
toma o meu peito
bebe do seu branco
não deixes que o sangue
se aproxime do coração em demasia
olha vê ali lá fora
vês?
vês a chuva já em cinzas?
apaga o cigarro
vem
1 comentário:
É bom saber que tudo vai passar...
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