quarta-feira, 16 de maio de 2007

Vencedores e Vencida

Há dois dias, já não sei se na SIC se na TVI, vi umas imagens chocantes, quem ambos os canais passaram. Era pela hora do jantar, crianças acordadas, portanto. No Iraque, uma mulher curda era apedrejada até à morte por homens selvagens, arautos da moral e dos bons costumes que (lhes) ditam (às suas mentes atrofiadas) não poder uma mulher curda apaixonar-se por uma homem de uma qualquer outra étnia. Em suma, ela ama e é morta, eles matam e vivem. Para piorar o caso, as nossas brilhantes cabeças pensantes das direcções de informação das televisões supracitadas resolveram passar as imagens; lá foram dizendo que eram chocantes, que não se recomendavam a pessoas sensíveis, etc. As balelas costumeiras e vezeiras em gente que só tem em mente a captação de audiências a qualquer custo. E de nada serviu ter-se dito, nos últimos meses, o quão nefastas foram as imagens que as mesmas cadeias televisivas de todo o mundo passaram mostrando quer o enforcamento de Saddam Hussein, quer os preparativos insanos do jovem estudante universitário que há poucas semanas disparou a torto e a direito matando mais de trinta pessoas. Interessa à TVI e à SIC que haja criancinhas acordadas àquela hora eventualmente em frente das televisões? Não, não interessa nada, interessa-lhes apenas o sangue. Depois vêm, muito preocupados, exibir reportagens sobre a violência infantil. Depois, preocupam-se imenso com a pequena Madeleine e os Rui Pedros do mundo. Porque para eles mostrar aquelas imagens aviltantes àquela hora não é uma violência infantil, deverá ser antes entendido como pedagogia, certamente... Para piorar, na edição de ontem do «Diário de Notícias» (leram bem), numa «breve» não assinada, o diário vangloriava-se de ter mostrado as imagens do facto aos seus leitores muito antes daquelas duas televisões as terem passado em horário nobre (que mais parecia o horário Nobre, tal o apetite voraz pelo sangue e pela carne...). Não sei, meus filhos, que mundo é este que será o vosso, como diria Jorge de Sena, mas às vezes tenho vergonha desta gente que se diz jornalista.

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