AMAS-ME?
Personagens:
(Presentes)
Luísa
Leonardo
Raquel
A Mãe
O Pai
A Filha
A Empregada
Henrique Cimento
Jorge
(Ausente)
Doutor Estranho Amor
Cena 1
(O palco apresenta-se negro quase por completo, apenas possibilitando a percepção de um televisor em primeiro plano, quase à boca de cena, voltado de costas para o público. Decorrem alguns segundos até que Leonardo se aproxima e, baixando-se, liga o aparelho e depois senta-se num sofá a folhear um jornal. Ao fazê-lo, o palco ilumina-se. A decoração da sala revela bom gosto e poder de compra. Haverá pelo menos dois sofás e uma mesinha de apoio, onde estarão revistas e o comando televisivo, eventualmente outro qualquer objecto decorativo, como uma jarra de flores. Ouvem-se os acordes de «Un Respiro», de Wim Mertens, primeiro alto, depois, aos poucos, gradualmente diminuindo até ao silêncio. É nesse momento que entra em cena Luísa. Traz com ela uma revista de moda feminina e senta-se perto de Leonardo. Os dois lêem; estão assim alguns segundos até que ela, fartando-se da revista, a deixa cair em cima da mesa e, subitamente, pergunta a Leonardo:)
LUÍSA
Amas-me?
LEONARDO
Se?... Desculpa?
LUÍSA
Não ouviste?
LEONARDO
Não, não ouvi, podes repetir?
LUÍSA
Não ouves nada, tenho sempre de repetir mais do que uma vez. Leonardo, perguntei-te se me amas. Amas-me?
LEONARDO
Lá estás tu outra vez.
LUÍSA
Outra vez... é só isso que tens para me dizer?...
LEONARDO
Sim, estás sempre com isso. Se te amo, se te amo! Isto assim começa mal.
LUÍSA
Não percebo qual é o problema. Não é uma maneira tão boa como qualquer outra para se começar?
LEONARDO
Sem dúvida, perfeitamente, tão boa como outra qualquer, só que vai sempre dar ao mesmo.
LUÍSA
O mesmo... Que é o quê? O teu silêncio, deve ser isso a que te referes.
LEONARDO
Não, não é a isso que me refiro, Luísa. Refiro-me ao facto de que sempre que começas com essas perguntas a conversa vai por água abaixo, a conversa dá sempre para o torto, acaba sempre mal. É isso, acabamos sempre mal quando começamos por aí.
LEONARDO
O.k. Luísa, queres ver se me confundes, não é? Vens sempre com essas coisas para me confundires.
LUÍSA
Coisas? Presumo que estejas a falar do amor, porque é disso que eu estou a falar.
LEONARDO
Sim, do amor, naturalmente.
LUÍSA
Achas então que o amor acaba sempre mal quando o discutimos, quando falamos de amor?
LEONARDO
Sim, basicamente é isso, quer dizer... O que eu quero dizer é que o amor é uma coisa muito complicada e quanto mais o questionamos, pior. O amor deve fluir, devemos frui-lo, não questioná-lo, não devemos andar atrás dele, devemos deixar que nos procure, que nos visite, que nos inunde... Pronto, lá estás tu já com essa cara de gozo e de desdém, é sempre assim, primeiro fazes-me as perguntas e depois quando te respondo pões esse sorriso a meia haste na cara. É o que te digo, dá sempre para o torto, estás a ver, já está a dar para o torto.
LUÍSA
Claro, é porque tu não ouves aquilo que dizes, porque se ouvisses de certeza que também te rias, aposto que te rias às gargalhadas. Experimenta, põe-te em frente ao espelho, olha para ti a dizer isso e vê se te reconheces. Garanto-te, morres de riso ou pelo menos alguma coisa má te há-de dar.
LEONARDO
Pronto, já sabia, o corolário normal da conversa de sempre, agora vem a parte da história de que já não sou o mesmo de antes, que já não me reconheces e por aí adiante, não é? A seguir, e escusas de o dizer, eu adianto já, vem a conversa de que já nem sequer faço nada cá em casa, que só desarrumo, e que nem a escova de dentes ponho no lugar, e o champô destapado que depois fica com água dentro e os salpicos do creme da barba no espelho da casa de banho...
LUÍSA
Leonardo, pára, pára. Estás a enervar-me. Tu não tens esse direito. Será que não vês que aquilo que podia ser tão simples acaba sempre numa complicação porque te pões a trocar as voltas à conversa! Eu fiz-te uma pergunta muito simples, uma só palavra, uma interrogação básica: amas-me?
LEONARDO
Luísa...
LUÍSA
Leonardo, amas-me?
LEONARDO
O.k., amo.
LUÍSA
(Levantando-se enervada e saindo de cena ao ouvir o toque da campainha.)
Mentiroso! (As luzes apagam-se.)
Personagens:
(Presentes)
Luísa
Leonardo
Raquel
A Mãe
O Pai
A Filha
A Empregada
Henrique Cimento
Jorge
(Ausente)
Doutor Estranho Amor
Cena 1
(O palco apresenta-se negro quase por completo, apenas possibilitando a percepção de um televisor em primeiro plano, quase à boca de cena, voltado de costas para o público. Decorrem alguns segundos até que Leonardo se aproxima e, baixando-se, liga o aparelho e depois senta-se num sofá a folhear um jornal. Ao fazê-lo, o palco ilumina-se. A decoração da sala revela bom gosto e poder de compra. Haverá pelo menos dois sofás e uma mesinha de apoio, onde estarão revistas e o comando televisivo, eventualmente outro qualquer objecto decorativo, como uma jarra de flores. Ouvem-se os acordes de «Un Respiro», de Wim Mertens, primeiro alto, depois, aos poucos, gradualmente diminuindo até ao silêncio. É nesse momento que entra em cena Luísa. Traz com ela uma revista de moda feminina e senta-se perto de Leonardo. Os dois lêem; estão assim alguns segundos até que ela, fartando-se da revista, a deixa cair em cima da mesa e, subitamente, pergunta a Leonardo:)
LUÍSA
Amas-me?
LEONARDO
Se?... Desculpa?
LUÍSA
Não ouviste?
LEONARDO
Não, não ouvi, podes repetir?
LUÍSA
Não ouves nada, tenho sempre de repetir mais do que uma vez. Leonardo, perguntei-te se me amas. Amas-me?
LEONARDO
Lá estás tu outra vez.
LUÍSA
Outra vez... é só isso que tens para me dizer?...
LEONARDO
Sim, estás sempre com isso. Se te amo, se te amo! Isto assim começa mal.
LUÍSA
Não percebo qual é o problema. Não é uma maneira tão boa como qualquer outra para se começar?
LEONARDO
Sem dúvida, perfeitamente, tão boa como outra qualquer, só que vai sempre dar ao mesmo.
LUÍSA
O mesmo... Que é o quê? O teu silêncio, deve ser isso a que te referes.
LEONARDO
Não, não é a isso que me refiro, Luísa. Refiro-me ao facto de que sempre que começas com essas perguntas a conversa vai por água abaixo, a conversa dá sempre para o torto, acaba sempre mal. É isso, acabamos sempre mal quando começamos por aí.
LEONARDO
O.k. Luísa, queres ver se me confundes, não é? Vens sempre com essas coisas para me confundires.
LUÍSA
Coisas? Presumo que estejas a falar do amor, porque é disso que eu estou a falar.
LEONARDO
Sim, do amor, naturalmente.
LUÍSA
Achas então que o amor acaba sempre mal quando o discutimos, quando falamos de amor?
LEONARDO
Sim, basicamente é isso, quer dizer... O que eu quero dizer é que o amor é uma coisa muito complicada e quanto mais o questionamos, pior. O amor deve fluir, devemos frui-lo, não questioná-lo, não devemos andar atrás dele, devemos deixar que nos procure, que nos visite, que nos inunde... Pronto, lá estás tu já com essa cara de gozo e de desdém, é sempre assim, primeiro fazes-me as perguntas e depois quando te respondo pões esse sorriso a meia haste na cara. É o que te digo, dá sempre para o torto, estás a ver, já está a dar para o torto.
LUÍSA
Claro, é porque tu não ouves aquilo que dizes, porque se ouvisses de certeza que também te rias, aposto que te rias às gargalhadas. Experimenta, põe-te em frente ao espelho, olha para ti a dizer isso e vê se te reconheces. Garanto-te, morres de riso ou pelo menos alguma coisa má te há-de dar.
LEONARDO
Pronto, já sabia, o corolário normal da conversa de sempre, agora vem a parte da história de que já não sou o mesmo de antes, que já não me reconheces e por aí adiante, não é? A seguir, e escusas de o dizer, eu adianto já, vem a conversa de que já nem sequer faço nada cá em casa, que só desarrumo, e que nem a escova de dentes ponho no lugar, e o champô destapado que depois fica com água dentro e os salpicos do creme da barba no espelho da casa de banho...
LUÍSA
Leonardo, pára, pára. Estás a enervar-me. Tu não tens esse direito. Será que não vês que aquilo que podia ser tão simples acaba sempre numa complicação porque te pões a trocar as voltas à conversa! Eu fiz-te uma pergunta muito simples, uma só palavra, uma interrogação básica: amas-me?
LEONARDO
Luísa...
LUÍSA
Leonardo, amas-me?
LEONARDO
O.k., amo.
LUÍSA
(Levantando-se enervada e saindo de cena ao ouvir o toque da campainha.)
Mentiroso! (As luzes apagam-se.)
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