quarta-feira, 23 de maio de 2007

Amas-me? - Cenas 4 a 9

Cena 4

(Luísa está sozinha na sala. Tem um ar desolado, fala de si para si, questionando-se sem parecer obter respostas.)

LUÍSA
O amor, o amor... o que é o amor? Onde anda o amor? Onde pára o amor? Onde nasce o amor? Onde se esconde o amor? Como se descobre o amor? Como se alimenta o amor? Como se perde o amor?...


Cena 5

(Luísa com os pais, os três sentados, o pai e a mãe à sua frente, ela com as mãos de Luísa nas suas. A partir daqui, dada a brevidade das cenas, a luz de palco apagar-se-á e abrir-se-á sucessivamente intercalando a saída e a entrada das personagens.)

MÃE
O amor, filha, é uma promessa, um voto para a vida, um querer a todo o instante, um lutar até ao fim.

PAI
Até que a morte nos separe.
(Diz, sorrindo e olhando com ternura para a mulher que lhe responde também com um sorriso.)


Cena 6

(Luísa com a filha adolescente, vestida à moda, com os adereços correspondentes.)

FILHA
O amor, mãe? Foi isso que perguntaste? Iá, ‘tou a ver qu’hoje ‘tás naqueles dias bué da maus. Ó mãe, o existencialismo já passou de moda há um coche de tempo! Curte a vida, olha, vai às compras!


Cena 7

(Luísa com Raquel.)

RAQUEL
Ó amiga, ainda estás assim? Eu avisei-te, os dias de hoje não estão para os poetas. O amor? O amor está nos livros e tu sabes que já quase ninguém lê.


Cena 8

(Luísa com a empregada, reconhecível pela farda respectiva.)

EMPREGADA
Ai, Dr.ª. Luísa, sabe, eu cá já não sou destes tempos, não sei que lhe diga, os meus olhos vêem por vezes coisas mas eu não me acredito. Hoje é tudo uma grande complicação, a juventude, sabe, ele é eles com eles, ele é elas com elas, já nada se parece com nada! Eu cá não sei, que nunca tive educação para julgar fosse quem fosse, mas uma pessoa baralha-se. Ai se o meu Raimundo ainda por cá andasse, o que ele não havia de dizer disto tudo. Olhe, Dr.ª, é o amor como o fazem, o amor hoje já não vale nada, compra-se por tuta e meia e já está, negócio feito, adeusinho, até ao próximo. É pena, é pena porque no meio disto tudo, deste comércio sentimental, só ninguém sabe é o preço do verdadeiro amor.

Cena 9

(Luísa, outra vez sozinha. Vê televisão, novamente passam imagens da guerra no Líbano. Ouve-se «La Noche de Mi Mal», de Lila Downs. Aos poucos a música deixa de se ouvir, apenas, no entanto, o suficiente para se ouvir Luísa, depois volta a escutar-se alto.)

LUÍSA
Como haveremos de encontrar o amor entre ruínas?

(As imagens de guerra, tal como a música, mantêm-se por alguns segundos, depois Luísa pega no comando e desliga a televisão. O palco fica escuro. )

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