terça-feira, 8 de maio de 2007

Osteopenia e um momento poético

Vou ao reumatologista. Apanhei uma osteopenia! E osteopenia, hein? - diria certamente o saudoso Pessa. Coisa linda, de um tipo roer os ossos de inveja... Bem vistas as coisas, não é qualquer um que tem uma osteopenia. O mais trivial é ter-se osteoporose. Eu cá, arranjei uma osteopenia, que, bem vistas as coisas, é bem melhor do que uma cirrose ou uma artrose reumatóide, se é que tal existe. Portanto, agora vou ao médico. Há cerca de um, dois anos andava eu sem saber que tinha uma osteopenia, desconfiava, porém, de que alguma coisa me andava a cirandar o esqueleto. E fazia exames e mais exames e escrevia assim, em poema inédito:

por estes dias
tenho andado e parado assim:
entre o tique e o tac
entre o bário e o trânsito
que vai dos dias ao intestino
tenho andado e parado
entre o passo e o compasso
entre o pé e a espera
entre a pressa e o pássaro que passa
presa fácil do sol de julho
como há sessenta e tal anos um calor assim
não se sentia dizem nos telejornais
telehabituais teleformais telemenstruais.
assim tenho andado
e parado
mais para lá do que do lado
de cá do corpo assim
como se andasse descalço na vida
olhando triste o relógio
entre o tic e o tac
tic tac

mais um copo de bário?
vá lá, um esforço!, diz a enfermeira.
assim, isso, para o poema...

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