«A Equipa da FátimaShop depositará no cremador de cera do Santuário de Fátima, no espaço de 48 horas, as velas ou figuras de cera, em seu nome, pelas Intenções que nelas depositar. O valor do Serviço é fixo independentemente da quantidade dos artigos escolhidos. A forma de encomendar é simples, prática e segura. Se é a primeira vez que está a fazer compras na Fátima Shop, clique aqui para ficar a conhecer os métodos de pagamento disponíveis no nosso site.» O extraordinário site é o http://www.fatimashop.pt/ (um dos muitos que há na net) e o que propõe é uma espécie de devoção de fé por via de intermediário, assim, bem ao jeito do que se passa nas compras nos hipermercados via internet! Confesso que, no Portugal de hoje, século XXI, não sei o que mais espanta: se a maré de peregrinos que se dirige para Fátima, muitos cumprindo promessas pagando-as caro com a carne e o corpo, se o negócio aviltante e fervilhante que em torno do fenómeno campeia.
Olhando para Fátima, assistem-me as imagens do excelente programa de António Barreto, «Portugal – Um Retrato Social». Um programa que parece a todo o momento procurar sinais de um Portugal outro, moderno e civilizado, voltado para o futuro, apostado em valores racionalistas, mas que a todo o instante esbarra e tropeça em muros e raízes que minam o país desde o tempo da Velha Senhora. Estaremos menos pobres, mais próximos da Europa e do mundo, mais cultos, mas a grande maioria do povo permanece num limbo entre o passado e o presente, num território sem espaço nem tempo definidos – assim, tal como as imagens do programa, oscilando num preto e branco e cores, num claro escuro donde não conseguimos sair por mais telemóveis e bandas largas que se vendam. A música que Rodrigo Leão compôs para o programa expressa bem esse estado lacónico/ nostálgico, oscilando entre um passado cinzento e um futuro prometido a cores mas eternamente adiado.
Portugal hoje parece-se muito com um postal. Um postal a cores cujas tonalidades se esbatem à medida que o sonho europeu se vai delindo e os tons da realidade (económica, social, cultural) insistem em não sair do negro. E por isto tudo me lembrei de um filme de Daniel Blaufuks (o fotógrafo vencedor do BES Photo) que passou no IndieLisboa 2006. Chama-se «Um pouco mais pequeno que o Indiana» e deveria ser mostrado na televisão de serviço público. Ao estilo road movie, Blaufuks, na ressaca do Euro 2004, pegou no seu Mercedes e com a câmara no «lugar do morto», tendo como rota imaginária velhos postais, foi filmando um certo país moribundo que somos, uma vez transpostas as fronteiras de Lisboa e Porto. E o Portugal que aí vemos não é outro senão o das clivagens sociais, da ausência de estética, do desnorte urbanístico, do desemprego, da desumanização dos campos, da esperança substituída pela fé. Por isso fui a Fátima, para ver Portugal e tentar perceber.
terça-feira, 15 de maio de 2007
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