quinta-feira, 10 de maio de 2007

Perdidos e Achados


Ao almoço (e certamente ao jantar), mas ao almoço, que é quando com eles nos cruzamos, à hora de almoço, portanto, nesses grandes refeitórios democráticos da actualidade que são os shopings, vêmo-los na crista da moda. Eles, calças largas, a cair rabo abaixo, elas, calças justas, a cair rabo abaixo. Não sei de onde vem o estranho desejo desta geração em mostrar o traseiro... terá tudo começado naquele dia da manifestação de estudantes em frente à Assembleia da República, quando a luta contra as propinas estava no auge? Enfim, são os tempos e não deixo de me lembrar que quando tinha a idade deles usávamos calças que mais pareciam de quem se predispusesse a ir ao berbigão, talvez por ali, na maré vaza do rio Arade, frente a Ferragudo, ou então nos Três Irmãos, lá para o Alvor... Em suma, uns para baixo, outros para cima. Alguém devia investigar a que se deve este desconforto geracional com as calças! E nesta matéria, claro, como não lembrar os saudosos anos 70, supra-sumo do design e do look. Outro dia, passeando, em Campo de Ourique, por uma daquelas antigas casas de fotografia, dou com o formoso rapaz que aqui vêem emoldurado a ver a vida passar. Reparem no cabelo sedoso, abraçando o pescoço, a gola em bico sobre a camisola de malha com gola média, e depois a magnífica armação dos óculos. Um efebo a despertar para a moda! Que terá sido dele? Quem é/ era? E como se irão rever os efebos dos shopings de hoje, melenas sobre os olhos ou cabelos em crista, mas sempre com as calças a fugir aos rabiosques, quando daqui a vinte ou trinta anos subitamente, ao virar de uma esquina, ao dobrar de um dia, se virem (a um deles) numa fotografia similar, quem sabe numa moldura digital?

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