quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Dirty Diana - Um terrível conto de terror IV Capítulo

4. uma safadeza
«Vamos por partes», disse o inspector Jack, agente especial enviado em caça ultra-sónico até à capital francesa para se pôr ao corrente das informações, estabelecendo ponte directa com as autoridades reais em Londres. Mas era em vão que tentava acalmar a Imprensa, que disparava perguntas a torto e a direito. Jack estava bem informado. Tinha uma espécie de telefone vermelho ligado ao hospital, de onde a todo o momento recebia informações sobre a evolução do estado da princesa, e era com esses dados que jogava na diplomacia noticiosa. Sobretudo com muito jogo de ancas, como se mostrava necessário. O dito jogo dava-lhe um certo ar amaricado, por causa da estória das ancas, é bem verdade, mas não menos o é o à-vontade com que lidava com a pressão. E se a princípio, à falta de instruções superiores sobre como proceder, foi entretendo o caso e a classe jornalista com derivações, escusando-se a pronunciar-se sobre o estado de saúde da princesa, não demorou muito tempo até que anunciasse o óbito.
Claro. Claro que a princesa não morreu. Não, não estou aqui armado em escritor para enganar ninguém, se bem que é bem sabido que a literatura me conceda liberdades para tal. O que se passou foi que a conselho vinculativo, e não sujeito a apelação superior, a Rainha, ao saber dos sucessos havidos nas ruas parisienses, entrou numa espécie de euforia, na perspectiva de se livrar de vez da querida nora... Não o querendo fazer transparecer, não obstou a que, sabendo das notícias, um sorriso mefistofélico se lhe rasgasse a meia haste nas ventas hipócritas. Sucede que com o passar das horas veio a saber que, afinal, a nora não tinha falecido e que parecia agarrar-se à vida com quantas forças lhe restavam – «O povinho é tão teimoso», suspirou entre dentes. E face aos novos dados decidiu: se a morte não a matara pois que ela à morte se substituía e mandava «matá-la», quer dizer, apagá-la, ou rasurá-la, ou... sei lá, decida aqui o leitor o termo mais apropriado.
Resumindo, para todos os efeitos, e já que já todos pensavam que Diana estava morta, pois que isso mesmo seria oficializado. Era como já ter o código postal no sobrescrito, a primeira parte do trabalho estava feita, certamente a desígnios do Altíssimo, e se assim era estranho é que a Diana se tivesse safado como se safou. Uma safadeza, pois claro! E foram essas as instruções a que a Rainha deu seguimento e alforria para Paris: «Obviamente, confirme-se a morte.» E mais: que no Hospital ninguém falasse, que as secretas britânica e gaulesas, em conjunto e em conluio, garantissem que assim seria. Se Diana sobrevivera, tanto melhor para ela, o povo é que não precisava de o saber; até porque, disse a maléfica rainha de si para consigo, quem é que vai querer para sua princesa uma princesa desfigurada e com cara de cu (rumores que já lhe tinham chegado ao nariz, como se subentende)?!... Assim o pensou, assim se fez e as secretas trataram de tudo com os governos respectivos.
No mais, a morte da princesa possibilitava a emergência de negócios incalculáveis, logo mais-valias para a economia; o povo iria fartar-se de choramingar mas não deixaria de se babar todo com os negócios do caso advenientes: velas, ursinhos de pelúcia, T-shirts com a cara de Diana, pins e crachás para todos os gostos, livros, postais, missas a estipêndios inflaccionados, flores, santos e santinhas, etc. E isto já para não esquecer o brado e indignação em torno dos paparazzi. Haveria muito sobre o que opinar e verter lágrimas. E a verdade é que mal se soube do sucedido, por todo o lado se deram ordens de fabrico e compra para toda esta parafernália de objectos. Dias depois, já as unidades industriais tinham as máquinas a rodar, o mercado entrara em ebulição de um dia para o outro. E convenhamos: haverá algo mais rentável do que a morte de uma princesa? Em acidente automóvel? Em Paris? Com o seu amante? Num Mercedes? Pas de tout! Ia-se a ver e bem visto a Rainha haveria de ter razão – se uma Mãe tem sempre razão, quanto mais uma Rainha mãe...
Era preciso era ter Diana morta como dado adquirido. Portanto, havia que não dar nas vistas em torno do Hospital onde ela recuperava, havia que mantê-la debaixo de olho, vigiar os seus passos e depois tratar de lhe traçar destino, longe dos olhares do povo e do mundo. Coisa de somenos para a Secreta britânica. Bastava pôr um ou dois agentes do MI5 na sua sombra, vinte e quatro horas por dia até ao fim dos seus dias. Nada de novo no historial da prestimosa secreta, bastando lembrar que andaram no rasto de George Orwell durante vinte anos a fio.

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