segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Dirty Diana - Um terrível conto de terror VII

7. chamava-se Paul Aroid
Mas sangue, agora sangue! Ou não tivéssemos em mãos escrita que se quer digna do género a que se pretende alcandorar, o do Terror. Sim, é certo que já é aterrorizadora a ideia de uma querida princesa tornar-se numa espécie de sanguinolenta matadora após terríveis transformações sofridas no seu corpo e espírito, sim, a própria imagem do desastre automóvel já contém alguns ingredientes dignos do melhor gore italiano, Tarantino não a desdenharia, mas... mas faltará, concedo, o ambiente, a atmosfera, o locus horrendus da acção típica do género...
A ver se o conseguimos. Mais reconfortada e resignada à ideia de não mais poder abraçar o seu Dodi, tentando a todo o custo eclipsar a ideia do cão vadio roendo a cartilagem da orelha do seu amado, Diana acalmou-se no que a alcalóides respeita e passou a dedicar-se ao seu plano de vingança. É isso e só isso que agora lhe comanda os dias, esse desejo incontrolável de sangue, do sangue como alimento para justificar os seus dias, o seu respirar.
A princesa não o notava, e a verdade é que seria difícil pois pode dizer-se que já não se interessava pelos espelhos como antes, mas estranhamente o seu corpo continuava a ser palco da materialização de estranhas metamorfoses. Assim, o tom da sua pele encontrava-se mais lívido a cada dia que passava, os seus olhos arregalavam-se ao ponto de não caberem nuns óculos escuros da moda, no translúcido dos braços podia ver-se o sangue correndo em golfadas; vermelho, bem vermelho, como que querendo contrariar a estúpida teoria do sangue azul nas realezas. E na boca... na boca, sentia umas estranhas vibrações nas gengivas, como se os dentes lhe quisessem saltar, assim uma indefinível efervescência que a fazia salivar amiúde...
Outrora modelo de virtudes e farol da moda, Dirty Diana optara agora por um look de femme fatale, trajando negro da cabeça aos pés, um pouco à imagem de uma cinematográfica Cat Woman; abandonara os vestidinhos esvoaçantes e coloridos, os chapéus patetas, as écharpes e os casacos de pele (muito pouco amigos dos animais) e apresentava-se agora de calças de napa e T-Shirt negras, tal como a cor das botas, estas de um cabedal luzidio a condizer com o batôn, o rouge e o eye-liner e demais acessórios de maquilhagem feminina cuja terminologia o autor confessa desconhecer, não podendo assim mais enriquecer o seu texto.
Nos olhos, quando se viam, denunciavam-se dois archotes, e as suas unhas, crescidas e grossas, mais pareciam virotes sequiosos de carne onde se adentrarem. O rosto, malgrado a cara de cu já por diversas vezes citada, tomara novos, angulosos e façanhudos contornos, e embora conservasse a forma arredondada nas maçãs do rosto, o seu queixo vinha lentamente tomando a forma de um mefistofélico triângulo invertido onde despontavam amiudados pêlos negros. Nada, ainda assim, que uma passagem pela depilação de uma boa casa de beleza não tratasse.
Ah, mas apesar de mais reconfortado com o teor da descrição, não creio ter ainda atingido o clima necessário para podermos afirmar, sem dúvida nenhuma, estarmos ante um conto de terror. Daí que passe directamente ao jorro, à descrição do jorro de sangue que saltou, como rolha de Champanhe bem agitado ou Etna enfurecido, da goela do primeiro paparazzi que Diana houve por bem visitar. Chamava-se Paul Aroid e trabalhava para um pasquim britânico que lhe comprava as fotografias da princesa a preço bem inflaccionado. Aroid era pior do que as pestes, pior do que uma crise de piolhos, estava em todo o lado, saltava de país para país com a maior das facilidades, e conseguia sempre saber onde a princesa se encontrava, arranjava sempre maneira de conseguir chegar perto dela. Havia quem lhe chamasse «the royal shadow», pois não despegava das saias de Diana (quando ela ainda as usava). Pois bem, não custou muito a Diana saber onde se encontrava Paul Aroid, ele era correspondente fotográfico em Londres e o mais certo era encontrá-lo nas festas da haute societé.
Créme de la créme para os seus planos, Diana sabia que certo dia ia haver uma grande festa patrocinada por uma marca de roupa, onde se apresentaria nova colecção Outono/ Inverno. Vestida a preceito, não se esquecendo de levar uns óculos escuros o mais na moda possível (assim uns tipo iguais aos dos maricas), para evitar quaisquer suspeitas sobre os seus olhos faiscantes, Diana dirigiu-se ao Palácio onde o evento teria lugar. E não pareceu nada mal; ao passar pelo tapete vermelho desenrolado à entrada do Palácio, Diana, acometida por inúmeros flashes (de fotógrafos que nem suspeitavam quem estavam a fotografar) não deixou de se sentir um pouco vaidosa e chegou mesmo a lembrar a joyeuse dos dias de brilho e glamour que conhecera. Porém, uma vez dentro dos salões, ao ver uma série de caras que conhecia de outras andanças rapidamente se deixou de manteiguices e nostalgias. À boca aflorou-lhe uma baba pastosa que mais não era senão a lubrificação necessária ao acto que o seu corpo vingativo reclamava com foros de urgência e muito sangue, se possível.
Foi quando viu ao longe, sentado no rebordo da piscina do jardim do palacete, Paul Aroid. E assim, tipo flash, não mais o deixou de vista.

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