segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ganda poster de Ana de Amsterdam, com sua licença

«O João entrou no quarto no preciso instante em que eu chamava cabrão ao Octávio Teixeira que, na antena 1, logo pela manhã, se masturbava publicamente a falar do Hugo Chávez. Lançava o homem jactos espasmódicos de esperma bolorento, louvando a revolução venezuelana, os índices de alfabetização, a reforma agrária e a diminuição da pobreza. O meu filho olhou-me de viés, censurando-me a linguagem. Expliquei-lhe que metade do meu corpo é alentejano, metade do meu corpo gosta de açorda, coentros, poejos e beldroegas, metade do meu corpo sabe jogar ao jangro, metade do meu corpo vive na charneca de terras arenosas onde as alcagoitas ainda crescem entre os tomateiros e uma menina já morta penteia os cabelos longos de uma mãe que se chama Umbelina. Metade do meu corpo, disse-lhe eu, exausta, é alentejano e no Alentejo cabrão não é asneira. “E eu? Também sou um bocadinho alentejano? Também posso dizer cabrão?”, perguntou. Respondi-lhe que nem pensar, que nunca, mas nunca, se atrevesse a dizer cabrão à minha frente. Ter apenas um quarto do corpo alentejano, uma insignificância, não dá direito a tais liberdades linguísticas.»

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