8. you arrre verry belle, you know?
Paul Aroid arengava postas de sedução a uma qualquer beldade que ali mesmo conhecera, sob pretexto de lhe oferecer, de graça, um portfolio fotográfico, em sessão a combinar, no seu estúdio, naturalmente. A menina, que veio a saber-se era uma modelo norte-americana vinda do Texas, ria-se muito e voltava a desfazer-se em sorrisos palermas, engalanando os peitos postiços, bem à americana, quase transbordando o decote, o que mais e mais abria o apetite guloso de Paul Aroid, então já semidobrado sobre ela, sob risco iminente de queda conjunta nas águas da piscina, que reluziam translúcidas à força da luz dos holofotes que no seu fundo se encontravam.
Diana aproximou-se, a cada passo e a cada metro mais próximo do fotógrafo se lembrando das inúmeras vezes em que quisera ver-se livre dele e ele, qual melga entre as melgas, não desarmava de a seguir por todos os cantos, ruas, cidades, países, continentes! Lembrou-se, em particular, de todas as artimanhas de que Aroid se fazia valer para atingir os seus intentos, conseguir a melhor foto de Diana, se possível no mais recatado da sua vida íntima, a foto que lhe granjearia fama entre os seus pares, aquela que o ajudaria a reformar-se bem cedo, possibilitando-lhe largos anos de vida numa qualquer ilha do Atlântico Sul, torrando ao sol dos trópicos, devidamente acompanhado por um par de beldades nativas. Ora se fazia passar por camareiro dos hotéis onde Diana se instalava, ora surgia travestido a empregado de bar, ora vestia a pele de amigo de amigos da princesa, e sempre, sempre conseguia, só ele sabe como, infiltra-se ou fazer-se passar por convidado nas festas onde Diana era convidada principal. E Diana não esquecia! Não esquecia sobretudo que as primeiras fotografias publicadas na Imprensa de cenas íntimas entre ela e Dodi tinham sido da autoria de Paul Aroid. Fotografias que ele vendera por uma pequena fortuna e que assim explicavam o seu novo apartamento num dos melhores bairros de Paris, bem como o seu novo, reluzente, potente e fantástico Aston Martin DB9 Coupé.
Era, portanto, este o homem que enriquecera e granjeara fama às custas de uma contínua e persistente caça à princesa. A princesa outrora mais conhecida por Diana, Princesa do Povo, mas que era agora a perigosa e sequiosa de vingança Dirty Diana. Que estava ali, a olhar com verdadeiro asco as mãos de Paul desbravando caminho pelas curvas sinuosas de Pamela, esta cada vez mais desmanchada em tremeliques face aos avanços galanteadores do mais célebre paparazzi francês. «Yes, yes, yes...», dizia ele resmoneando face aos «non, non, non...» dela. Eles nisto e Diana a um metro do par, que só então dá pela sua presença.
«Paul? Paul Aroid? The astonoshing photographer? Paul himself?» – pôs-se com estas balelas introdutórias Dirty Diana. Aroid não se fez rogado. Apreciou num relance rápido a figura do mulheraço que pela frente se lhe apresentava e vendo que, ao que parecia, tinha pela frente uma admiradora, logo se compôs, deixando Pamela atónita, levantando-se para um cumprimento à francesa; pegando a mão da princesa e beijando-a delicadamente, logo depois confirmado: «Paul Aroid, in person, un garçon at your command». Diana sorriu. Mantinha-se de óculos escuros pelo que no relativo lusco-fusco nocturno em que se encontravam Aroid não deu de imediato pelas suas semelhanças com a Diana princesa, que durante anos e anos ele perseguira e fotografara. Como a americana dos seios robustos se armasse em difícil com aqueles falsos púdicos «non, non, non», Aroid decidiu voltar os seus esforços de conquista para a sua admiradora de negro. Esta, embora falasse inglês, pelo sotaque parecia inglesa. Talvez fosse mais afoita e Aroid não queria perder mais tempo. «You arrre verry belle, you know?... Want you like me que vous photographe?… peut-être à ma studio?...», arranhou num misto de francês e inglês.
«Oui, Oui, bien sur, porquoi pas?» É claro que Dirty Diana acedeu ao convite. Dirigiram-se ambos ao Aston Martin, estacionado nos relvados fronteiros ao palácio, e Paul Aroid carregou a fundo no pedal acelerando em derrapagem rumo ao seu atelier fotográfico, um loft recente com vista envidraçada para um dos canais do Sena.
Uma vez dentro do atelier tudo se passou relativamente depressa. Paul Aroid levou Diana para um espaço todo em branco, rodeado por holofotes de um branco opaco, e em cujo centro se encontrava uma Harley Davidson preta toda cheia de cromados. Ao mesmo tempo que dirigia Diana para lá, Aroid ia, como quem não quer a coisa, passando as mãos pelo lombo da princesa, se nos fazemos entender. E entre um beijo roubado ao seu pescoço lá lhe ia dizendo que a ideia era que ela aos poucos e poucos fosse tirando a roupa, fazendo uso da Harley como bem entendesse, antes, durante e após a sessão de strip. Quanto a ele, levantava as mãos como que garantindo promessa, limitar-se-ia a fotografar, que era aquilo que, muito modestamente, sabia fazer como ninguém.
Já estava Paul Aroid de cenho arreganhado atrás de uma das suas máquinas quando, depois de um leve e ousado menear de ancas e rabo (que à própria Dirty Diana surpreendeu, fazendo-a ruborescer um pouco), Diana tira finalmente os enormes óculos escuros, mostrando toda a avidez e perfídia dos seus olhos arregalados. É claro que o pobre Aroid se engasgou tomado de súbito e inesperado susto. Sim, porque se aos olhos dos outros Dirty Diana poderia passar apenas por uma cópia muito aproximada da Princesa Diana, mas nada mais do que isso, a verdade é que aos olhos de paul Aroid, que como poucos conhecia a princesa, aquela mulher que ele tinha pela frente era e só podia ser... nem mais... nem menos... (engoliu em seco) Diana! A Princesa do Povo! Ali, afinal viva, e bem viva, à sua frente! O homem estava transido de pasmo e terror, e nem sequer teve tempo de pensar no que lhe estava a acontecer. Tão-só porque no momento seguinte já Dirty Diana se agigantava sobre ele de dentes e unhas afiadas castigando-o brutalmente, usando de toda a sua força para nele despejar todo o ódio acumulado ao longo de anos. Depois de o trucidar à pancada, Dirty Diana presenteou-o com um obsceno remate final: depois de lhe espetar os dois dentes caninos no pescoço, enfiou-lhe no anus, suprema vergonha, a maior grande angular que à sua volta encontrou. Antes de sair, assinou na testa de Aroid a sua marca: DDT. Quando a Polícia o encontrou, um dos agentes comentou para um colega: não, este desgraçado não ficou nada bem na fotografia. Tal como não o ficaram os dois paparazzi seguintes de quem Diana se ocupou, cada um à sua maneira, cada qual de forma mais tenebrosa e requintada, tanto mais que eram dois dos fotógrafos que na altura do acidente com Dodi seguiam de motorizada no encalço do Mercedes: Fash Gordon e Frank Hasselblad.
terça-feira, 13 de novembro de 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário