segunda-feira, 23 de julho de 2007

Anomalias - Conto a conta-gotas

XVI.
Já os cornos de Abílio mais lhe cresciam

Quando o Abílio se apercebeu, ao dirigir-se ao Registo Nacional de Propriedade Industrial, de que fora «passado para trás» e que, algures no caminho entre a germinação da sua fabulosa ideia e as suas démarches para a pôr em prática, houvera uma fuga de informação, que é como quem diz «fuga de Juliana», passou-se dos cornos. Sim, porque nem só o Alves tinha cornos. Cornos, aliás, há-os de várias espécies, e estes, com que a puta da Juliana e, por corolário, Sandra e o homem de fato cinzento, lhe tinham adornado a testa, também não eram dos melhores e mais fáceis de suportar. Como era homem à antiga, armou-se logo de decisões e vinganças. Estava visivelmente fora de si e caminhava pelas ruas com um ar eufórico. Ai de quem lhe tolhesse passo! O que lhe tolheu a passada foi uma montra. Uma montra muito jeitosa, decorada apenas com um pano de seda de cor leitosa. E era sobre esse manto branco, puro e angelical, que surgiam, pela primeira vez, aos olhos de Abílio os diversos CDs da colecção «O Silêncio Quando Nasce é Para Todos». Já os cornos de Abílio mais lhe cresciam e os seus olhos lhe largavam as órbitas, quando repara que nas ruas, ali ao seu lado, diversos transeuntes levavam já os CDs nas mãos. Já em casa, explodiu de raiva ao ver as aberturas dos noticiários, dando conta das edições rapidamente esgotadas dos CDs contendo silêncio, e o anúncio publicitário onde o homem que chorava por não ter atendido quando o amor lhe bateu à porta promovia a supracitada colecção «O Silêncio Quando Nasce é Para Todos».

Cenas da próxima gota:

Se há coisa de que malandro não gosta é de ser ludibriado por malandro... ... Abílio pegou no seu velhinho Fiat 124, agora em versão Tunning, e dirigiu-se à empresa onde Juliana trabalhava... ... Abílio foi-se embora não sem antes agarrar na chave do BM... ... Acelerou a fundo e desapareceu.

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