Prédios de má fama
Quando o homem que chorava por não ter aberto a porta ao amor, quando este lhe bateu à porta, reuniu dinheiro suficiente, mercê da sua mediatização televisiva e colunas de opinião pagas a peso de ouro, deixou o apartamento do prédio onde morava. Mudou-se então para um condomínio privado e passou a abastecer com as suas lágrimas ininterruptas, diluvianas, a piscina respectiva. Não era, contudo, feliz, porque se é bem certo que ter dinheiro dá muito jeito, a verdade é que não abrir a porta ao amor é muito mais grave do que não abri-la à sorte grande. Por sorte, no seu caso, o não ter aberto a porta ao amor foi como se tivesse aberto a porta à sorte grande. Não é assim tão complicado. Complicada, tornou-se, alguns meses depois, a vida do senhor do 7º, que, tendo já decorrido algum tempo, continuava a não pagar rendas e, encostado à parede pelos vizinhos condóminos, viu-se na circunstância de ter de aceitar a administração do condomínio. É claro que não aguentou e desta é que foi, ou melhor, se foi: mandou-se em voo livre. Era demais para um prédio que já tinha tanta má fama e publicidade; tremeu nos alicerces e ruiu acabando com a história.
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