XI.
O silêncio é possível, fale connosco
Se bem o pensou, melhor o fez. E do tapete se levantou, qual boxeur que reencontrasse forças no fundo do nada para se reerguer e levar o mundo ao tapete. Calado que nem um rato, como convém ao negociante da área, logo tratou de arranjar nome para a empresa. «O Silêncio é de Oiro» pareceu-lhe apropriado. Como frases promocionais de lançamento do produto surgiram-lhe várias hipóteses: «Se não tem nada para dizer, cale-se para sempre!»; «Cansado do mundo? Ouça o silêncio que temos para si.»; «Há quanto tempo não se cala?» (este pensado especialmente para comentadores televisivos); «Procura silêncio? Ouça o que temos para si.»; ou então «O Silêncio é possível, fale connosco, baixinho!» A partir daí, Abílio deixou correr a imaginação, pensou em públicos e pensou em dirigir-lhes o seu produto. Para um público católico, venderia o CD «Silêncio de Catedrais» (gravado nas mais imponentes catedrais do mundo); para um público exótico e viajante, o CD «Silêncio dos Desertos» (a gravar no coração dos desertos); para um público gótico-mórbido, o CD «Silêncio Mortal» (a gravar em cemitérios); para um público intelectual, o CD «Silêncio Crítico» (a gravar directamente de textos de crítica literária); para um público erótico, o CD «Silêncio do Amor» (a gravar junto à pele de dois amantes apaixonados), e por aí adiante. Juliana estava embasbacada face à cabecinha pensadora do seu Abílio e já pensava nas Caraíbas, imaginando-se de biquini, óculos de chapéu de sol, debaixo do fresco de um coqueiro servida por dois negros nativos, atléticos e apetitosos...
Entretanto, os cornos do Alves cresciam em silêncio... ... Entretanto: «Estes Alves são uns bivalves...», gracejava Abílio... ... Sandra ficou em pulgas, mesmo já não tendo o Bones em casa...
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