VIII.
Antes a vozinha do Ricardo
Juliana é uma mulher que gosta de falar. Sandra também. As mulheres, em geral, gostam de falar. As suas conversas são como hipermercados, nelas tudo se encontra, todas as histórias são possíveis e todas são passíveis de intermináveis comentários. O marido de Juliana é que já não a suporta. O homem anda desgraçado da vida. Chega a casa ao fim do dia, de rastos, e ainda tem de levar com as histórias do emprego de Juliana. Hoje foi a vez da história da Sandra, a colega que acredita em coincidências e que, ao que parece, viu uma novela na 4 e que não sei quê, e tudo se assemelhava à sua vida e também havia um cão morto! Que diabo, um cão morto!? E isso é notícia? Faz conversa? Uma merda de cão morto!? Há certamente qualquer anomalia na cabeça destas mulheres, resmunga para consigo Alves, o marido de Juliana que está prestes a ter uma coisa má, pois não há maneira de a mulher o deixar ouvir os comentários do Jorge Gabriel ao seu Sporting e ao filho da puta do árbitro que sancionou o golo com a mão no último jogo para a Liga. «Antes a vozinha do Ricardo», pensa.
Cenas da próxima gota:
É de um tipo se atirar ao silêncio... ... Há quanto tempo o mundo não se cala?... ... Havia de ser um bom negócio, o do silêncio... ... pensa a brincar Alves...
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