VI.
O do 7º esquerdo
Houve então um homem, o do 7º esquerdo, que por acaso era canhoto, politicamente à esquerda, usava risca no cabelo do lado esquerdo e tinha um carro com o volante à esquerda, mas que não acreditava em coincidências, que, perante o berreiro do vizinho, ameaçou suicidar-se, coisa que, ao contrário do senhor Azevedo, do rés-do-chão, podia fazer, já que vivia no 7º e o acto pensado de suicídio consistia num voo livre picado. Todos protestaram ao vê-lo acercar-se perigosamente da marquise que dava para o poço onde um certo cão, de sua graça Bones, fora encontrado, ao que parece para ali lançado por miudagem com requintes de malvadez. Ninguém queria mais publicidade negativa no prédio, já bastava o cão, que nem sequer era de nenhum deles, mas pertencia à Dona Sandra, do prédio ao lado, já bastava o choro do homem que, esperando, não foi atender o amor à sua porta e agora definhava em pranto para todo o sempre. Donde que lhe suplicaram que desistisse dos seus intentos. E foi o senhor Azevedo que, após a mais rápida reunião de condóminos do mundo (coisa para figurar no Guiness, e em adenda tal ponto ficou de se tratar em reunião seguinte), e ainda que a contragosto, algo azedo, comunicou ao senhor do 7º que em troca da sua desistência de pôr fim à vida lhe perdoariam o ano e meio de rendas de condomínio em atraso e a promessa de que ele, no ano seguinte, não teria de assumir a administração do prédio. O homem do 7º esquerdo achou bom o negócio e reentrou com o pé direito em casa. Só mais tarde se lembrou de que não resolvera o problema do barulho com a choradeira do senhor que não atendeu o amor e que por isso continuava num pranto desmedido – qual Maria Madalena qual quê!
Cenas da próxima gota:
Era curioso... ... Porque Bones era o nome do cão de Sandra... ... Que giro!... ... Sim, porque Sandra lera um livro... ... Claro que sim...
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