quinta-feira, 12 de julho de 2007

Anomalias - Conto a conta-gotas

IX.

Hei-de pensar nisso à séria

É de um tipo se atirar ao silêncio. Mas o mundo não vai permitir, o mundo não deixa, o mundo não vai deixar. A garganta do mundo não se cala. Na garganta do mundo cabem todas as mulheres como Juliana e como Sandra e cabem também todas as estações televisivas do mundo, e cabem ainda todos os comentadores do mundo, de todos os jornais, revistas e televisões, e cabe todo o ruído das cidades, dos trânsitos, do lixo musical, dos cães que ladram à solidão e que se calhar deviam calar-se. Há quanto tempo o mundo não se cala? O silêncio? O silêncio não existe, é uma palavra que devia ser erradicada do dicionário. Não há silêncio desde que o mundo nasceu e desde que nasceu que o seu choro se espalha pelos séculos, atravessa os tempos e vem acolher-se nos nossos ouvidos. Porque é aí que o ruído vive, nos nossos ouvidos, é de nós que se alimenta. Havia de ser um bom negócio, o do silêncio. Silêncio em pacotinhos, silêncio engarrafado, silêncio aos gomos, perfumes de silêncio, acções de silêncio, fundos de silêncio, silêncio em suaves prestações, silêncios a prazo, capitais de silêncio. Hei-de pensar nisso a séria, pensa a brincar Alves, o marido de Juliana enquanto pesca umas e outras da conversa do «Jogo Falado».

Cenas da próxima gota:

Nem só os árbitros como o que roubou o Sporting... ... Tire-se-lhe o chapéu que o homem sabe fazer a coisa... ... Os pensamentos sobre o silêncio, estarão recordados... ... «Ai, Julí, Julí, que ainda vamos fazer as malas»...


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