sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

E agora para um momento poético!

gostava
mas não sou como o Torga
que a cada natal
tirava do saco da poesia
um menino jesus e um poema

sei apenas e cada vez mais
que o natal são as crianças
e as ofertas dos seus sorrisos

o natal quando penso nele
já não lá está

de modo que arrumo a secretária
desejo as boas festas no escritório
e saio para o trânsito das últimas compras

no shopping
enquanto aguardo pelo meu número de senha
para cortar o cabelo
tirando as medidas às barbas do pai-natal
dou de caras com o menino jesus
deitado ao baixo entre as notícias
de guerra e paz
lá onde o menino nasceu entre as palhinhas

de modo que não sou como o Torga
que a cada Natal seu poema
talvez porque como o David
sei também que a cada Natal
há o prenúncio do Natal que há-de vir
Natal primeiro
Natal derradeiro
que é como quem diz são favas contadas

mas tudo isto é poema
corte-se o bolo
mande-se tudo à fava

abram-se as prendas
distribua-se com parcimónia e gula
a alegria pelas crianças

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