terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Olha, gostei muito, mas vou para casa ver um filme do Oliveira, consegue ser menos chato!


Pois bem, parece que foi a debandada geral. Eis a notícia, via Público: «O Teatro de São Carlos estava cheio às 20h, no início da estreia mundial da ópera de Emmanuel Nunes. Ao intervalo, duas horas depois, as desistências eram muitas. Cerca de metade do público tinha abandonado a sala.»


E eis alguns comentários de críticos na matéria:


«O que a ópera também revela, e é facto que tem de ser devidamente escrito, com todas as letras, é que o compositor, sendo um autor cultissimo, não tem todavia a menor cultura teatral e cénica. Neste aspecto, crucial, Das Märchen é de facto uma obra espantosa, de inanidade.»
«Emmanuel Nunes, compositor do eixo franco-alemão de origem portuguesa (e que é “compositor português” quando devidamente lhe convém, como se sabe, quando se trata de obter o apoio e as garantias de mandarinato de entidades e poderes portugueses)...»
«O que pensa Emmanuel Nunes que é o teatro musical: uma inacreditavelmente dispendiosa récita de “kindergarten”?»

blog Letra de Forma, de Augusto M. Seabra, 26 de Janeiro

«Música reaccionária e datada.Repetição à exaustão de clichés e de efeitos sonoros explorados ad nauseam, utilização sistemática das mesmas fórmulas, sem a menor originalidade ou capacidade de ruptura.Absoluta incapacidade de comunicar com o objecto receptor da obra.Ausência da menor noção de dramaturgia e de fluxo dramático.Ausência da noção da prosódia, não há a menor relação entre a música, o texto e a encenação.»

Blog Crítico Musical, 27 de Janeiro


Eu escuso-me a comentar o que não ouvi, mas a crer no que ouço, não terá sido coisa de aguentar...


Mas o que nesta história acho mais fascinante (para além da costumeira acusação pelos intelectuais da praxe de que o público não sabe ou não está preparado para ouvir e desfrutar tão elevados desígnios musicais) é que o próprio secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho (ao que me consta, amigo próximo do compositor, para além de primeiro - ou um dos primeiros - responsável pela encomenda - no valor inacreditável de 1 milhão de euros -), tenha sido um dos desertores a meio da estreia!!!


Mas riam-se mais com a justificação dada: «compromissos de agenda»!!! Não sei se estão a ver bem a coisa, compromissos de agenda (!), numa sexta-feira à noite!!! Compromissos de agenda ou letargia crónica, ou sono profundo, ou tédio absoluto, ou então o «Cristóvão Colombo, o Enigma», do Manoel de Oliveira, para ver em casa?...

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