quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Histórias Fulminantes 70

O Senhor K. leu: «Naqueles tempos já ninguém oferecia nada a ninguém. Reunidos em assembleia geral, os relógios de todo o mundo decidiram por unanimidade que, de futuro, em vez de darem as horas passariam a vendê-las. As ampulhetas reagiram de imediato e, mais comedidas, acusaram os relógios de se venderem, mas logo deram o seu tempo por perdido, pois os relógios não alteraram a sua decisão. Em consequência, os ricos, que podiam pagar, avançaram no tempo, os pobres, foram ficando no tempo em que se encontravam. Naturalmente, e apesar de tudo, os pobres viveram mais tempo, uma vez que os ricos morreram mais cedo. Às tantas, mesmo os pobres, cansados de ver o tempo passar, decidiram unir esforços e comprar algumas horas. E assim fizeram até chegarem à hora da sua morte.» O Senhor K. olhou o relógio, viu que já era tarde, e foi-se embora.

Clássicos no Sol






Já no próximo fim-de-semana, e a cada número, o jornal «Sol», em colaboração com as Quasi Edições, começa a oferecer ao leitor uma interessante colecção de livros juvenis. Trata-se da adaptação para os mais jovens de clássicos da literatura portuguesa por escritores de hoje, com ilustrações de diversos nomes da área. Os três primeiros livros são oferecidos com o jornal, os restantes vendidos ao preço unitário, e módico, de 2 euros e 50 cêntimos. José Luís Peixoto assina o primeiro título, «Os Maias», eu assino o terceiro, «Amor de Perdição», a sair a 16 de Fevereiro. São desse livro as ilustrações que aqui publico, da autoria de Helena Simas.

O segredo do sucesso espanhol - ganas!


quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Silence Music Box, The Magic Numbers - «Love Me Like You»

Silence Music Box, The Magic Numbers - «Forever Lost»

Cine-Silêncio, «Persepolis» 3

Cine-Silêncio, «Persepolis» 2

Cine-Silêncio, «Persepolis» 1

Cine-Silêncio - «Persepolis»

Aí está, calem-se os Oscares, para melhor filme do ano (eu sei, ainda mal começado) designo este: «Persepólis». A adaptação do livro homónimo de banda desenhada, com direcção de Vincent Paronnaud e Marjane Satrapi. Para perceber o Irão de Hoje, para aferir de um país adiado, de vidas hipotecadas pela sede ditatorial de vertente religiosa e pretensamente moralista-tradicionalista, que é o mesmo que dizer machista e castradora. Um filme excepcional, para todas as idades.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Conduta Imoral


«Arazo teknikoak konponduta!» Pois, o que quer dizer esta frase em basco, que leio num blog basco, não sei, mas posso tentar adivinhar... assim, qualquer coisa do tipo «conduta imoral»! Sem dúvida.

Lisboa por aí


Histórias Fulminantes 69

Proposta grátis para apoio à causa da unidade na Grã-Bretanha: o Reino Unido jamais será vencido.

Olha, gostei muito, mas vou para casa ver um filme do Oliveira, consegue ser menos chato!


Pois bem, parece que foi a debandada geral. Eis a notícia, via Público: «O Teatro de São Carlos estava cheio às 20h, no início da estreia mundial da ópera de Emmanuel Nunes. Ao intervalo, duas horas depois, as desistências eram muitas. Cerca de metade do público tinha abandonado a sala.»


E eis alguns comentários de críticos na matéria:


«O que a ópera também revela, e é facto que tem de ser devidamente escrito, com todas as letras, é que o compositor, sendo um autor cultissimo, não tem todavia a menor cultura teatral e cénica. Neste aspecto, crucial, Das Märchen é de facto uma obra espantosa, de inanidade.»
«Emmanuel Nunes, compositor do eixo franco-alemão de origem portuguesa (e que é “compositor português” quando devidamente lhe convém, como se sabe, quando se trata de obter o apoio e as garantias de mandarinato de entidades e poderes portugueses)...»
«O que pensa Emmanuel Nunes que é o teatro musical: uma inacreditavelmente dispendiosa récita de “kindergarten”?»

blog Letra de Forma, de Augusto M. Seabra, 26 de Janeiro

«Música reaccionária e datada.Repetição à exaustão de clichés e de efeitos sonoros explorados ad nauseam, utilização sistemática das mesmas fórmulas, sem a menor originalidade ou capacidade de ruptura.Absoluta incapacidade de comunicar com o objecto receptor da obra.Ausência da menor noção de dramaturgia e de fluxo dramático.Ausência da noção da prosódia, não há a menor relação entre a música, o texto e a encenação.»

Blog Crítico Musical, 27 de Janeiro


Eu escuso-me a comentar o que não ouvi, mas a crer no que ouço, não terá sido coisa de aguentar...


Mas o que nesta história acho mais fascinante (para além da costumeira acusação pelos intelectuais da praxe de que o público não sabe ou não está preparado para ouvir e desfrutar tão elevados desígnios musicais) é que o próprio secretário de Estado da Cultura, Mário Vieira de Carvalho (ao que me consta, amigo próximo do compositor, para além de primeiro - ou um dos primeiros - responsável pela encomenda - no valor inacreditável de 1 milhão de euros -), tenha sido um dos desertores a meio da estreia!!!


Mas riam-se mais com a justificação dada: «compromissos de agenda»!!! Não sei se estão a ver bem a coisa, compromissos de agenda (!), numa sexta-feira à noite!!! Compromissos de agenda ou letargia crónica, ou sono profundo, ou tédio absoluto, ou então o «Cristóvão Colombo, o Enigma», do Manoel de Oliveira, para ver em casa?...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Sobre o Vazio


Viagem com branco no bolso


ptn

Histórias Fulminantes 68

Numa praia algarvia, caminhava sozinho na vasta extensão de areal. Ao fundo, apercebeu-se de uma silhueta. Aproximou-se e viu que era um búzio. Não um búzio normal, mas um búzio grande, muito grande e alvo, luminoso. Não resistiu ao convite da luz e entrou. Caminhou durante horas, caminhou durante dias e dias, caminhou durante meses e quando julgou já não ter forças para regressar, vislumbrou a saída. Espreitou e quando pôs o pé em terra ao levantar o olhar viu que um canguru o olhava com curiosidade olhos nos olhos. Depois levou um soco e não viu mais nada, acordando no hospital ainda algo atordoado.

A Arrumação dos Dias


terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Silence Music News


Sia Furler tem novo álbum. Falta chegar ao mercado nacional. Até lá podem ouvir-se quatro canções no MySpace: http://www.myspace.com/siamusic

Vamos lá saber, o cavalheiro Lino já se demitiu ou foi já foi demitido?


"O que eu acho faraónico é fazer o aeroporto na Margem Sul, onde não há gente, onde não há escolas, onde não há hospitais, onde não há cidades, nem indústria, comércio, hotéis e onde há questões ambientais da maior relevância que é necessário preservar."

"Até estou convencido que um aeroporto na Margem Sul jamais teria o aval de Bruxelas, dadas as mesmas questões ambientais."

“O aeroporto na margem sul era o mesmo que transformar o Norte do Alentejo em Brasília.”

"Para construir o aeroporto na margem sul era preciso transportar para lá milhares de pessoas."

Ministro Mário Lino dixit

Há dias pude fotografar os originais de Luiz Pacheco, aí estão com a «foto» do pseudónimo Delfim da Costa em primeiro lugar








Silence Arts News


Evelina Oliveira nasceu em 1961. A artista tem desenvolvido o seu trabalho de pintura em duas linhas diferentes mas complementares, num equilíbrio bem gerido e sabiamente mantido. A primeira linha, é um projecto já com 10 anos de duração que apresenta uma pintura mais conceptual, com preocupações que ultrapassam a simples esfera artística e que se cruzam com os domínios da biologia, da afinidade ou da diferença entre as diversas possibilidades de vida. Uma outra faceta, aquela em que Evelina Oliveira investe a sua criatividade intuitiva, deriva de uma pesquisa íntima e pessoal, de uma busca de memórias, de uma atitude introspectiva. Estas obras, agora patentes ao público na São Mamede de Lisboa, conduzem-nos a referências múltiplas do nosso imaginário infanto-juvenil, apresentando um carácter muito mais figurativo e até narrativo. É a partir deste domínio que igualmente têm surgido ilustrações para obras literárias infanto-juvenis, designadamente a conhecida obra «Rosa, Minha Irmã Rosa», da escritora Alice Vieira, bem como muitas outras ao sabor de circunstâncias e convites em que a artista se vê envolvida. «Imaginary Friends» reporta a perguntas figuradas. Evelina Oliveira dirige-se a si mesma, questiona-se sobre o envolvimento com o seu próprio trabalho analisando os fundamentos de uma permanente e intrínseca dualidade, interrogando-se sobre a necessidade e vitalidade dessa dualidade. Para ver na Galeria São Mamede, à R. da Escola Politécnica, 167, em Lisboa, nos dias úteis, entre as 10 e as 20h00, aos sábados, das 11 às 19h00.

Outros Silêncios

«A relação pessoal com o silêncio pode ser algo de muito ruidoso. O silêncio é cada vez mais uma ideia romântica na medida da impossibilidade de ser alcançado na sua forma absoluta: no limite, podemos ambicionar o silêncio acústico, traduzido numa sensação de quietude ambiental na paisagem sonora que nos rodeia, mas nunca o silêncio físico.»

Jorge Mantas, «Textos Pretextos»

Lisboa por aí...


Porque é que isto me traz à cabeça estas histórias de caixas gerais, bêcêpês e a modesta reforma de Paulo Teixeira Pinto e outros que tais...

«Era filho de um funcionário que em Petersburgo fizera, em vários ministérios e departamentos, a carreira que leva os homens a uma posição em que, embora se perceba claramente que não servem para desempenhar qualquer cargo importante, não podem em todo o caso, devido ao longo serviço passado e à sua categoria, ser demitidos e por isso obtêm cargos fictícios inventados e salários nada fictícios de milhares, de seis a dez, com os quais vivem até avançada idade.»

«A Morte de Ivan Ilitch», de Lev Tolstoi

Histórias Fulminantes 67

Encontraram-no afogado na grande fonte do jardim municipal. Ou como titulou um dos jornais na manhã seguinte, ficou «Retido na Fonte». Dias antes soubera-se que burlara o Estado em complicados esquemas de falsas retenções na fonte. Pela boca morre o peixe.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Silence Music News - Joe Jackson, novo álbum a 28 de Janeiro


Histórias Fulminantes 66

O senhor K. era um homem triste. Aproveitando ter sido o primeiro a chegar ao local do crime e apercebendo-se de que a vítima morrera com um sorriso nos lábios, roubou-lho! Era a oportunidade pela qual esperara a vida inteira. Quando a Polícia chegou deparou-se com dois crimes, tendo as suas primeiras suspeitas recaído sobre o senhor K. que, em declarações para os autos, sorria sem que os agentes percebessem bem porquê.

Lisboa por aí...


Silence Music Box, Chk Chk Chk, «Myth Takes»


sábado, 19 de janeiro de 2008

Outros Silêncios

«O caixão avança devagarinho, atrás a multidão geme silenciosamente. Um silêncio feito de murmúrios e rumores, de chilreares de pássaros invisíveis e da cantoria fantasmagórica dos sinos, de arrastares de pés e estalos de bengalas.»

Paulo Kellerman, «Os Mundos Que Partilhamos», Deriva

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Lisboa por aí


Histórias Fulminantes 65

Consta que morreu triste certo cozinheiro nazi por nunca ter conseguido realizar o sonho da sua vida: fazer uns bifinhos de peru com cogumelos de Hiroshima.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

O problema do Sporting é, tão-só, falta de...

Confiança...

Subtileza...

Toque de bola...
Técnica...

Souplesse...

Garra...

Poder de drible...

Raiva...

Elegância...

Beleza natural...

Acreditar...

Tranquilidade!

Histórias Fulminantes 64

Encontrada morta no sexto andar do hotel onde estava hospedada, a ex-Playboy de seios avantajados foi ainda sujeita a massagens cardíacas por mais de uma hora...

Amor aos Pedaços - O texto

A Minnie é uma gatinha afável e brincalhona, mas é provável que esteja assustada e não se deixe agarrar. No entanto, não arranha nem faz mal. Para atrair a sua atenção, pode fazer-se barulho com um plástico pequeno. Tem olhos azuis, embora a maior parte das vezes só se veja a iris castanha. Tem porte pequeno e magro.

Amor aos Pedaços


terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Silence Music Box, Ferruccio Spinetti/ Petra Magoni

A Demanda do Bravo Cavaleiro Dom Quixote - Capítulo Final

XXII.

Coitado do Pai Natal. Menção à Final Feliz. O bravo cavaleiro esmorece. Pensou em escrever crónicas, pensou até em mudar de visual. O cavaleiro Dom Quixote montado no seu cavalo? Garanto pela vidinha e saúde das minhas filhas.


Quem já não acreditava no Pai Natal nem em ninguém era Dom Quixote que, após dias e dias de errância pela capital lusitana, quase que desistira por completo, e por faltas de força, dos seus propósitos iniciais, de quando desandara da Dom Quixote animado em provar ao mundo da edição que ele ainda tinha muito para dar à literatura portuguesa. Que o mundo da edição não tinha perdido por completo a dignidade, que o último reduto da moral ainda reunia forças suficientes para resistir, para invocar novas ninfas éticas e imprimir à literatura lusa um crivo de verticalidade que lhe escapava a cada dia que passava, a cada nova editora que surgia no mercado com intuitos meramente economicistas. Não, com Dom Quixote a esperança não morreria, pois ele, bravo cavaleiro, qual Camões a nado agarrado a’«Os Lusíadas», levantaria bem alto a bandeira das Letras nacionais... Mas isso, isso foi no início, e aqui foi assaz referido e enaltecido pois era de um herói que falávamos, de um herói que continuamos a falar, e um herói deve sempre ser apresentado ao leitor como garante último das virtudes humanas. Agora, infelizmente, e bem ao contrário, o ânimo de Dom Quixote esmorecia. E como recriminá-lo? Espírito algum, verdadeiro amante dos livros e da palavra, poderá resistir por tempo eterno à devassidão da essência do livro? Qual o amador do texto e das ideias que consegue assistir, impávido e sereno, ao aviltamento do livro, ao estupro literário a que o condenam as supostas e teóricas necessidades de um público que não vê nele senão a porta para a coscuvilhice, para o reles e primário acerto de contas, para um confessionalismo amoroso de índole “folhetinosa” e pretensamente emocional, que não vê no livro senão um espelho de papel das vaidades próprias?
Dom Quixote tinha batido a inúmeras portas de diversas editoras, jovens empresas que pululavam como cogumelos na realidade editorial portuguesa, mas de todas tinha saído tal como entrara, isto é, excluídos lança e escudo, sem nada nas mãos. O bravo cavaleiro tinha-se sujeitado a enfrentar de mão estendida meros pretendentes à condição de editores, quando todos eles desmerecem o epíteto, todos eles não passando de meros predadores do livro, da sua essência, do seu mais profundo significado. Todos eles também vermes que vão sugando o espaço de mercado, afastando das estantes, das montras, das livrarias, os verdadeiros livros, as vidas e as histórias que contam, os livros fervilhantes de imaginação, de fantasia, de magia, de onírico, de invenção, de criatividade. Porque o verdadeiro livro é esse, um objecto que cria, que ilumina, que revela novos mundos, que acrescenta, em si um acto de criação. Pequenos mundos que se acrescentam ao mundo. Escrever é ousar experimentar o acto da criação. É partir do nada, que é o mundo à nossa volta, e acrescentar uma letra ao universo da criação. Naturalmente, tudo teorias e lirismos que escapam à regra do lucro fácil e rápido que move esses novos pretendentes a “editores”.
E naturalmente que ninguém tinha apostou verdadeiramente nas qualidades de Dom Quixote, ninguém sequer lhe concedeu o benefício da dúvida, uma hipótese, ténue e singela que fosse, até por cortesia, para mostrar o seu valor, para imprimir força às suas ideias e convicções, para mostrar que o livro Livro não tinha morrido, que o Livro haveria de sobreviver. Mas não, o mais que ele logrou alcançar, pobre e parca conquista, fora o convite estapafúrdio e indignante do Hare-editor da Oriente(-se). Não, minto, tivera ainda uma outra proposta, uma original proposta vinda de uma outra editora de nome curioso, a Final Feliz, que, como se adivinhará, tinha chegado ao mercado apenas para editar livros com final feliz! Pois o director da Final Feliz, em abono da verdade, também se compadecera do bravo cavaleiro e chegara a propor-lhe que escrevesse um livro em que Dom Quixote e Dom Chicote se bateriam em duelo na Praça de Toiros do Campo Pequeno (com entradas pagas a reverter directa e naturalmente para os bolsos da Final Feliz). Dom Quixote, obviamente que seria o vencedor e sairia da arena em ombros aclamado pelo povo...
Foi depois de todas estas andanças e desventuras que um certo dia um assomo de depressão assentou praça no peito de Dom Quixote. Retirou-se das ruas centrais de Lisboa para um local recôndito onde poucos o pudessem ver, e aí, pensou e pensou, remoeu e remoeu a sua vida e a sua desdita. E pensou até que não podendo vencer as regras do novo mercado, julgou por momentos que o melhor que faria era juntar-se-lhes ou jogar com elas. Pensou até em aceitar uma proposta da Star Books para pôr a sua vida em livro, pensou em aceitar escrever crónicas semanais para um jornal diário e para uma revista semanal do coração («Cartas a Dulcineia», sugeriu o director do “pasquim”), pensou também em escrever este livro que o leitor tem em mãos (dizem mesmo que terá escrito umas páginas, desinteressando-se depois do projecto por achar que nenhuma editora teria coragem para se interessar por ele), pensou até em mudar de visual, tanto que tinha ouvido falar em imagem e na importância do parecer nos dias de hoje. Mas logo, logo, ao pensar em tudo isso, se julgou louco (mais do que literariamente era) e, imaginando-se de cabelo, bigodes e barbas cortados, de fato e gravata montado no seu Rocinante, achou a visão tão ridícula que no imediato abandonou tais estapafúrdios projectos. Recriminou-se mesmo por ter vacilado, por ter sequer imaginado em juntar-se à lógica assassina do mercado. Não, não poderia fazê-lo, jamais, jamais o faria.
Nesse dia, nesse exacto dia em que tal certeza, tal pensamento acudiu à sua mente, Dom Quixote decidiu partir. Sim, antes partir do que ceder, do que alinhar, do que se vender. E a verdade, a verdade é que nesse dia em que Dom Quixote desapareceu em direcção a Este, provavelmente em direcção à sua terra Natal, diluindo-se na linha do horizonte até se transformar num ponto que, também ele, depois desapareceria, o céu, quase de um momento para o outro, encheu-se de nuvens brancas que entrando em colisão umas com as outras originaram uma tempestade como havia muito por ali se não via. «Parecia que o céu de repente se fechava como um livro grosso, com enorme estrépito, bramido e fragor», testemunhou um aldeão de um lugarejo ali próximo, um pouco para lá da ponte Vasco da Gama. Ao que outro, corroborando a impressão do primeiro, ajuntou, em directo para as câmaras de televisão: «E logo a seguir, o mais estranho de tudo, é que mal as chuvas e os trovões se calaram, as nuvens todas se juntaram dando forma a uma figura que, garanto pela vidinha e saúde das minhas filhas, era a do cavaleiro Dom Quixote montado no seu cavalo. Mas isso foi coisa de segundos, depois o cavalo levantou as pernas dianteiras – aquilo mais parecia o cavalo do John Wayne –, para logo de seguida cavaleiro e montada se virarem e partirem a galope esfumando-se as nuvens de que eram feitos num céu de um azul puro.»
Nessa mesma noite, ao saber dos acontecimentos pelo telejornal, o ex-director editorial da Dom Quixote, actual director da Dom Chicote, teve dificuldades em adormecer e quando o conseguiu foi no imediato assolado a noite inteira por pesadelos em que o bravo cavaleiro, montado no Rocinante, corria atrás dele de lança em riste, até que ele acabava por cair num abismo ao fundo do qual lhe aparecia Etelvina Prazeres vestida de diabo, com tridente na mão, rindo-se para ele às gargalhadas.

FIM

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

Outros Silêncios

«Gostaria de romancear a minha limitação, de me reconstruir como heroína predestinada. Se acreditasse verdadeiramente num Deus, diria que fiquei cega para conseguir valorizar o escuro e o silêncio, o não sber o caminho.»

Inês Pedrosa, «A Eternidade e o Desejo», Dom Quixote

domingo, 13 de janeiro de 2008

sábado, 12 de janeiro de 2008

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

E agora para um brevíssimo momento poético-festivo

Festa Rija

Solidão,
não.
Sol e Dão
sim!

O Problema dos Domingos

«Domingos divertidos passam estas raparigas em Braga! Quase tanto como o V.S. a preparar as suas petições para o ministro limpar o rabo a elas.»

Luiz Pacheco, «O Libertino Passeia por Braga, A Idolátrica, o seu Esplendor»

Projecto «TÉCNICAS FOTOGRÁFICAS»