terça-feira, 30 de outubro de 2007

Tias e Tios 4 e Final

Razões pelas quais acabei por não gostar do novo romance de Miguel Sousa Tavares:

- Porque senti ter perdido tempo a ler uma não-intriga num livro que mais parece um manual de História da primeira metade do século XX.
- Porque as personagens são incongruentes e pouco consistentes. A começar por Amparo, uma cigana com vontade de criar raízes em terra firme... («Como os ciganos, entre sul e viagem, do outro lado do rio, como ciganos somos de outra margem (...) somos de passagem»... como dizia o poeta Manuel Alegre).
- Porque trata-se muito mais de um tratado das paixões e prazeres de MST.
- Porque esperava muito mais do código genético literário do autor.
- Porque logo, logo se descobre o desenlace da história.
- Porque há uns anos (não há uns anos atrás, como redundantemente se diz no livro) li um conto de MST na revista «O Escritor» que me deixou com boa impressão.
- Porque para fazer de si um escritor não apenas de um só livro, se era para nos dar isto mais valia ter estado quieto.
- Porque de algum modo me sinto enganado pela editora (não por dinheiro gasto, que o livro me foi oferecido enquanto jornalista, mais pelo tempo que nele perdi, podendo estar a ler, por exemplo, o Dino Buzatti que tenho em lista, ou o novo livro de Max Gallo sobre «Nero», os novos contos de Luísa Costa Gomes, entre tantos outros).
- Porque me tinham dito (da editora) que era um grande livro...
- Porque tem (felizmente poucas) descrições patéticas de cenas pretensamente amorosas.
- Porque me parece um livro escrito tijolo a tijolo, leia-se capítulo a capítulo, enviados a conta-gotas para a editora, sem massa substancial capaz de uni-los de forma convincente.
- Porque MST não descola do comentador vituperino que é e chama às personagens e figuras históricas que vão passando pelas páginas o que muito bem lhe apetece, coisa de que o ficcionista se deve abster, de julgar, pelo adjectivo, a História e aqueles que a fizeram, agradem-nos ou não. Que D. Sebastião possa, na sua opinião, ter sido um «imbecil», nada de mal com isso, não tem é o ficcionista de armar-se em sumo julgador da História.
- Porque nunca julguei que MST fosse tão pobre, ao nível da trama romanesca, como uma Margarida Rebelo Pinto (sim, não li «O Equador»)
- Porque o filho de uma poetisa como Sophia não devia usar imagens gastas como as ondas, ou o mar que vem morrer à praia ou às areias...
- Porque um livro com estas debilidades tem 100 mil exemplares de tiragem.
- Porque escrever com técnica não basta. E por vezes nem sequer uma boa ideia basta.
etc.
E, sim, claro, nesta altura já pode bem o autor (e editora) estar a dizer que o problema do blogger é inveja. Será?

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