Dia da Criança com sessão na Feira do Livro, em Lisboa. Disseram-me que era de autógrafos, não me disseram que era para ver José Saramago dar autógrafos! Está mal, um jovem e incógnito autor indigna-se e aborrece-se, pensa em desistir, o diabo e o mais que for. A princípio pensei que eram as filas para os transportes por causa da greve geral, depois apercebi-me que aquela gente toda queria era «bilhete» para chegar ao pé do autor nobelizado. Até Alice Vieira, escritora useira e vezeira nisto de autógrafos, quase pôs a esferográfica de molho. Está mal. Nada democrático, senhor Saramago, nada democrático! Ele eram crianças, senhoras respeitosas, jovens adolescentes, senhores bem postos e com carreira, tudo e todos à rasca não fosse o autor refrear a mão cansada e desistir dos encómios la palicianos em matéria autografal... Um dos últimos leitores do autor de «Ensaio sobre a Cegueira» trazia tudo o que tinha lá em casa onde soçobrasse o nome de Saramago, outro dizia voltar ali, perto do mestre, passados vinte anos - a primeira vez que o viu devia ter dez anos, mais coisa menos coisa. Por fim, Saramago deu conta do recado. Semi-olha uma, duas vezes para o lado, a confirmar a dianteira larga para os seus colegas de banca, semi-sorri e continua a assinar. Está mal, um jovem autor aborrece-se e vai daí toca de lhe tirar o retrato quando de partida. O rapaz que lhe disse voltar à sua presença passados vinte anos fez mal as contas e atirou para o Autor: «Até daqui a vinte anos». Saramago sorriu, disse que não, levantou-se e foi-se embora, mãos atrás das costas. Eu, vi-o assim, de partida, e não ambicionei ter filas de leitores à minha espera.
segunda-feira, 4 de junho de 2007
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1 comentário:
Talvez a maior parte das pessoas em questão nunca tenha sequer folheado um livro de Saramago, mas a ideia de um livro na prateleira lá de casa assinado por um prémio Nobel fica sempre bem para mostrar as visitas.
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