domingo, 24 de junho de 2007

Lady Chatterley





Está já nas salas de cinema a mais recente adaptação ao cinema do clássico da literatura erótica «Lady Chatterley», de D.H. Lawrence. É uma bonita e fiel transposição que não se limita a explorar a vocação erotizante e carnal implícita no enredo, enfatizando igualmente a faceta sufragista e libertária da mulher emergente em meados da primeira metade do século XX. O texto de Lawrence, completado em 1928 (embora tenha conhecido algumas versões), crê-se ter sido inspirado nas aventuras de um súbdito inglês num resort turístico em Taormina, Itália, onde uma excêntrica comunidade britânica habitava. Fonte eterna de polémica, «Lady Chatterley» conheceu sucessivas tentativas de censura. Proibido durante décadas em Inglaterra, nos anos 50, o Japão e os puritanos Estados Unidos da América tentaram erradicar a sua imagem dos selos postais. Hoje, imagine-se, o livro é ainda proibido na China! Considerado um «homem perigoso» pelas hostes conservadoras, que viam com maus olhos a gradual libertação feminina, David Herbert Lawrence nasceu em 1885, em Eastwood, Nottinghamshire, filho de um mineiro e de uma professora. Faleceu em Vence, perto de Nice, em 1930. Quanto à realizadora deste novo «LadyChatterley», Pascale Ferran, ela esteve dez anos sem assinar obra (antes, a marcar a sua carreira, constam títulos como «Petits Arrangements avec les Morts», «L’Age des Possibles», entre diversas curtas-metragens), mas consegue aqui um assinalável regresso, conseguindo, com grande poética, aproximar-se da essência da obra de Lawrence. Tudo também muito por culpa da força romanesca que a actriz Marina Hands empresta a Constance. Nascida em 1975, Marina estreou-se no cinema em «La Fidelité», de Andrzej Zulawski, em 1999. Habitualmente dando vida a personagens enigmáticas, a sua interpretação como «Lady Chatterley» (talvez apenas ultrapassada em erotismo pela composição que Sylvia Kristel fez em 1981, para o filme de Just Jaeckin) veio a granjear-lhe o César de Melhor Actriz em 2007. Quanto ao outro protagonista, Parkin é o praticamente desconhecido Jean-Louis Coulloc’h. Com aparições na Sétima Arte muito fugazes, em França ele é conhecido sobretudo enquanto actor teatral. «Lady Chatterley», cheio de harmonia e equilíbrio, é ainda um belo filme de época, fidedigno nos figurinos e guarda-roupa, credível nos cenários e adereços – foi, de resto, filmado no belo Castelo de Montlhéry, onde, há cerca de trinta anos, Alain Resnais filmou um outro não menos notável filme, «Providence».

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