terça-feira, 5 de junho de 2007

Densitometria

hoje acordei
com espírito de domingo
mas nem sequer
no nariz tinha pingo
acordei com a telha
com pulga atrás da orelha
com humores de velha
e tudo estou em crer
por causa da densitometria
da qual não me escapo
entrando-me raio a raio
até aos ossos
como se estes fossem poços
de petróleo chupados até ao tutano
passa cá umas passas um fulano!
apatece-me é mandá-la
à densitometria e restante terapia
ao raio que a parta
mas é a enfermeira
com ares de enfartadeira
que me diz: despir ali pôr a bata
e aguardar. e eu ridículo
está de ver
bata azul calçando sapatos
mais parecendo ir à caça de carrapatos
depois deitar na cápsula
e aguentar quieto não respira
pode respirar não resinga
pode resingar e eu resingo
que ali preso mais pareço um crápula
de modo que assim hoje
como se fosse domingo
que é o dia que os suicidas escolhem
para se matar
em compasso de vida
a pensar na densitometria óssea
a pensar na densitometria ó...
na densitometria ó... se...
na densitometia ó... se... ao...
na densitometia ó... se... ao... menos
pudesse pôr os ossos daqui
para fora do poema!

1 comentário:

Anónimo disse...

Ah, então é por isso....