sexta-feira, 23 de maio de 2008

Torcato Sepúlveda (1951-2008)


«O Torcato morreu». A Isabel fez-me chegar a mensagem, assim, tão dura como um soco no estômago. Eu fiquei triste e respondi-lhe que ele era um tipo único. E era. Conheci-o quando trabalhámos juntos no «Semanário», ele, jornalista tarimbado, eu, aprendiz de ofício. Ele bastante mais velho do que eu, mas nem por isso a afirmar o posto como barreira. Era um homem que gostava das palavras, tanto quanto de ajudar. Era exigente, culto, seco. Aparentemente indisposto na sua solidão rodeada de todos quantos o prezavam, que eram todos. A mim, creio que no imediato me detectou o gosto comum pelos livros, pelo que deles por várias vezes falámos; lembro-me de me mostrar os poemas de Amália (que vinha de acabar de entrevistar) e dizer que sim, que até eram coisas bonitas e bem escritas. Lembro-me também de me ter recomendado os poemas de «Reinaldo Ferreira» (então publicados pela Vega), filho do famoso Repórter X, sobre que depois escrevi artigo... E lembro-me de que fumava muito, lembro-me de o ver como um príncipe das letras, com o seu cabelo e barbas brancas. Depois desse tempo tempos vieram em que só fui sabendo dele à distância. E todos me diziam de que continuava o mesmo: com a mesma fibra com que tomava a pulso o mundo à sua volta. Um abraço, Torcato.

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