sexta-feira, 31 de agosto de 2007

E agora para um momento poético


com manhas de gps

fui hoje aos olivais

arribando pela tarde

à rua de manhiça:


prédios difíceis com pouco

sabor a casa janelas

voltadas para o silêncio

com rio em fundo...


de áfrica pouco vi ou senti

senão o calor que cala

em Lisboa como em Canacassala


gente? pelas ruas pouca

abandonada ao vazio

de uma sexta-feira céu de boca





E já que Pacheco, o outro pelo primeiro



Depois de lembrar, outro dia, o documentário sobre o Luiz Pacheco, na RTP 2: «Eu mostrar-te-ia o Quengue, o Camecungo, aprendi depressa uma guerra e digo: algum dia hás-de ouvir-me, digo que não dormias, quem dorme é o Luiz Pacheco mas a esse desculpo e empresto vintes.» E lembro ainda que quando, há uma boa mão-cheia de anos, o amigo jornalista trota-mundos Tiago Salazar foi entrevistar o Pacheco (não sei se ao Telhal) é claro que o dito, ouvindo o apelido do jovem repórter, que ainda por cima vinha pel'«O Diabo», tratou de o receber com forte aleivosia de palavreado!

Outros Silêncios

«As palavras tornam-se esquivas. Com o silêncio
falaríamos melhor de tudo isto. (...)
Com o silêncio, o silêncio sem nome:
morrermos a meio do filme»

Fernando Assis Pacheco, «Cuidar dos Vivos» - «A Musa Irregular», Edições ASA

Momento insecto-poético

é o diabo diria - que o gajo de certeza ria -
travestido a louva-a-deus atarantada
que aterra a nojenta desgraçada
no mármore da cozinha; juro-te eu vi-a!

onde? onde? apunhala-se-me o nervo
num infantil arrepio de pele
nó na garganta mais apertado que anel
ferve a reta e também eu fervo

dá-lhe com o insecticida
carrega-lhe sem dó nem medida
torna-te por favor insectomicida

que te perdoo e abençoo
benzendo a bicha ainda a tentar voo
com mortal jornalada adeus que enjoo!

Nelson Évora


Nelson Évora, pois claro, ainda que do Benfica (o que, sendo mau, enfim, acontece...), um atleta que, ao contrário dos jogadores de futebol dos águias rosa, atira-se para o chão mas para ganhar medalhas de ouro. Este, sim, devia ganhar o que aquelas aves raras do tal Camacho-novo-Salvador ganham.

Sinto-me com sorte...


... se vir mais jogos de ténis como os que opuseram Stepanek a Djokovic, ou como aquele em que o nervoso russo Gabashvili ganhou «aos pontos» ao argentino Gonzalez; pena que Teimuraz vacilou depois frente ao norte-americano Ginepri. Tudo para dizer que o US Open me tem mantido acordado até bem tarde, tudo para dizer que quando vejo ténis assim tenho pena. Tenho pena, ponto. Ou prontos!

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Gira-Discos

Marc Collin, o nome por detrás dos notáveis Nouvelle Vague, está de volta com novo projecto, também ele pleno de bom gosto e prazer auditivo. Chama-se «Two for the Road» e, desta feita, conta com as vozes de Katrine Ottosen & Valente interpretando temas da sua autoria. Sonoridades electro-acústicas convivem, com surpreendente à-vontade, com ambiências jazz, pop, num álbum, como dizer?... roady? cinematográfico? blasé com refinação?... de evanescente musicalidade?... croony?

Sinto-me com sorte...


... se conseguir ir a um ou mais espectáculos do VI Festival Internacional de Máscaras e Comediantes, uma vez mais, este ano, a ter lugar no magnífico espaço ao ar livre (Castelejo) do Castelo de São Jorge. Até 8 de Setembro, com espectáculos ainda nos dias 30 de Agosto (O Filho da Dona Anastácia), 1 (Filtri di Vini), 6 (Aniñando), 7 (Arlequino, Servidor de Dos Patrones) e 8 (Pulcinella's War) de Setembro. Telefone para reservas: 21 880 06 20.

A arrumação dos dias


Histórias Fulminantes 26

A preparação de Andreas para aquela que seria a derradeira competição da sua vida fora longa e árdua. Porém, o esforço recompensa e à entrada para a última volta à pista os dois quenianos e o corredor etíope já tinham ficado para trás quase cinquenta metros. Mas as malhas do destino são indecifráveis e, inesperadamente, já na recta final o pé fugiu-lhe para, tomando a dianteira, vencer a prova por pouco mais de um segundo. Andreas, não conseguindo realizar o sonho de se tornar campeão mundial, decidiu então pedir a pistola ao juiz de partida e dar um tiro no pé.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

O problema dos domingos

Que domingo solene, ocioso e lasso!
Tão triste, o sol inunda a tarde toda,
Festivo como um guizo numa boda
Onde a noiva morreu, desfeita em espaço...

Medeia a eternidade, em cada passo
Que, sem intuito, dá quem passa; à roda
Parece dormir tudo; e incomoda,
Ponderável, no ar, um embaraço...

Toda a tristeza de domingo à tarde.
Sobe dos homens para o céu, que arde,
O apego à vida de um olhar que morre.

Sombras sugerem aflições incertas...
E das janelas sôfregas, abertas,
Morno, o silêncio como um pranto escorre...

Reinaldo Ferreira, «Poemas», Vega

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Histórias Fulminantes 25

Confiavam em excesso nas suas capacidades. Tanto que Tancredo achou por bem começar a recolher os excessos que, regra geral, iam para o lixo. Certo dia, largos meses depois de muito excesso de confiança recolhido, Tancredo tornou-se, ele próprio, confiante em excesso. Apercebendo-se de que, aos poucos, também ele ia desaproveitando a confiança em excesso, tornou-se mesmo excessivo. Tanto que um dia entrou no escritório e vendo tanto desperdício de confiança pegou numa pistola e, sorrindo confiante, matou os seus colegas, acabando em seguida com a sua vida. «Uma vida que se desperdiçou», disseram os familiares.

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

A Arrumação dos Dias


Histórias Fulminantes 24

Jantares de aniversário, reuniões profissionais, sessões de cinema, aviões... Rafael chegava sempre atrasado. E por vezes incorria nalgumas situações desagradáveis. Ria fora dos momentos em que devia rir, quando a situação já era de cariz trágico, chorava quando se contavam anedotas, e quando arrancava para marcar pénaltis já a bola estava na baliza contrária com o adversário prestes a comemorar o golo. Ninguém percebia o que se passava com ele, até porque depois de lhe fazerem a pergunta quando ele ia finalmente começar a responder já não tinha interlocutores à frente. Corria-lhe assim a vida e essa foi a sua grande sorte. Quando a morte o chamou ele chegou tão atrasado que ela se cansou e desistiu.

sábado, 18 de agosto de 2007

Nokia Auto-P








Mulheres e milheiral

Estive, faz agora quase uma semana, no meio do Marão. E à noite, como havia alguns bons anos não ia, fui ao bailarico; à antiga portuguesa. E que vi?: mulheres dançando com mulheres; gordas com magras, feias com bonitas, pequenas com grandes, pirosas com menos pirosas, etc. E não gostei, e por isso cito, a título de solidariedade ocasional, que agradeço ainda assim, palavras de Natália Correia nesse livro digno de espanto que é «Descobri que Era Europeia» (Edições Portugália, 1951): «... a dança é um acto virtualmente sexual. Só a admito entre um homem e uma mulher. Duas mulheres dançando não fazem sentido. É uma verdadeira aberração estética.» Na verdade, o que leva uma mulher a dançar com outra mulher? E um homem a dançar com um homem? Não, definitivamente não, confesso que é coisa que não bate certo. Para mim, claro, que também era capaz de mandar para trabalhos forçados para a Transibéria os indigentes que deram cabo do milheiral ao pobre do agricultor de Silves. Ide trabalhar e cortar o cabelo, malandros!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Outros Silêncios


«O ovo é um silêncio turbulento.»


João Pedro Mésseder, «Abrasivas», Deriva

Histórias Fulminantes 23

Era no país dos demónios e haviam decorrido as primeiras eleições democráticas. O primeiro Presidente demoníaco tinha sido eleito com grande vantagem sobre o segundo candidato e todos exultavam com o futuro das assombrações. Só então uma dúvida pairou como sombra no pensamento dos assistentes do novo Presidente: que título deveriam dar à esposa do Presidente? Primeira-dama ou Primeira-demo?

Outras (p)aragens









O Meu Stander


terça-feira, 14 de agosto de 2007

Ainda as coelhinhas

«A animação musical será assegurada pela «melhor dupla de DJ's do mundo», o Sharam dos Deepfish, o francês Cedric Gervais.» Questionado pelos Media, Cedric disse não temer a concorrência de Alberto João, embora reconheça os seus pergaminhos enquanto animador...

Bugs Berto

«Coelhinhas da Playboy actuam na Madeira.» Alberto João já pediu uma audiência e promete levar fio dental.

Ora Bolas!

Quatro portugueses foram sequestrados na Venezuela. Era preciso ir tão longe com o Derlei aqui tão perto?

Essa é que era bem sacada

É que só falta dizerem que a desgraçada da Varvara ainda sonha em ver o Benfica campeão!!!...

E continuam! Saúde? 117 anos?!

«A anciã, que se encontra em bom estado de saúde...»

Sémen e Kova, não sei se estão a ver?...

«Varvara Seménnikova, nascida em Maio de 1890, durante o reinado do czar Alexandre III, pertence à etnia dos evencos»... É como eu dizia, só pode ter sido um lapso... Varvara?... Seménnikova?... Evencos?... Valha-nos Nossa Senhora dos Tártaros!!!

Lapsos Renae

No site do Portugal Diário leio a seguinte notícia: «É siberiana, pastora de renas e tem 117 anos.» Só posso crer que seja um lapso, desculpável de resto. A verdade, porém, é que deveria ser outro o teor da notícia. Assim: «É siberiana, pasto de renas e tem 117 anos.»

Ora Bolas!

Já estou a ver as parangonas amanhã: «Rei Costa».
E a Ministra da Cultura, alguém sabe se foi ao estádio? E ministros e secretários de Estado, quantos foram à Luz? Ou ficaram em casa a ler Torga?
E diz, inteligente, o comentador da SIC: «Rematando à baliza, Rui Costa tem mais possibilidades de marcar.»
Todos os comentadores vão hoje para casa sonhar com o fantástico conceito das «linhas de passe».
Freddy Adu!? Adonde?
E Berardo? Estou convencido que vai lançar uma OPA sobre o Costa. E vai-se a ver até já são amigos do peito... O pior vai ser quando o mestre Costa souber que o comendador o quer comprar para o juntar à sua colecção...
Mas, o Santos sabe falar inglês?

Pois é, mas o patrão andou a trabalho!



















Pois é!

Pois é, patrão fora, dias santos no blog!

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Outros Silêncios

«É para os lados do silêncio
que as vozes se encaminham...»

Amândio Sousa dantas, «Pousado no Silêncio», Edições Ceres

Biblioteca


«O Burro Que Anda no Céu», de Alface, é uma história cheia de humor e non-sense escrita a pensar na miudagem dos 8 aos 88. Recentemente falecido, Alface, que se estreou com esta obra na literatura infanto-juvenil, chega assim novamente ao mercado editorial. As ilustrações são de Viktoriya Borshch, uma jovem ilustradora ucraniana que a Ambar está a lançar em Portugal. Um regresso feliz do homem que com um simples postal («Cuidado com os Rapazes») fez tremer Santana Lopes. «Sacana do Lopes», terá dito quando soube...

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Borg vs Alexandre Andrade


Ténis. Vejo as velhas glórias disputando pontos em Vale do Lobo (ou Vá de Lobo, como dizem as tias e vips veraneantes que se pavoneiam pelas bancadas). Este ano, interesse acrescido, a presença-regresso ao circuito de Björn Borg, o sueco maravilha dos anos 70 e 80. Hoje, Borg tem 51 anos. O cabelo louro, a la viking dos courts, ainda crescido sobre os ombros, já não rima com a pele dos 50 e com o olhar já sem o brilho de outrora. As pernas tremem quando o amortie pede a corrida, o poder do smash cede ante o poder maior do tempo. Custoso. Como custoso ver e comprovar que nem sempre «a fragilidade do corpo pode ser superada pelo robustecimento do carácter.» É claro que o mesmo poderá valer, e certamente vale, para aqueles em princípio de carreira. É o que escreve Alexandre Andrade («Cinco Contos sobre Fracasso e Sucesso», Má Criação»), ajuntando que isso mesmo «afiançam os instrutores nos primeiros minutos do primeiro dia, rodeados por raparigas e rapazes que cobiçam o peso da raquete, que mal podem esperar pela primeira troca de bolas a velocidades estonteantes».

Outros Silêncios

«E esses sulcos abertos no silêncio
são palavras
ou veios de papel?»

António Mega Ferreira, «Os Princípios do Fim», Quetzal

Cesariny relançado


A Assírio & Alvim e a Atalanta Filmes preparam-se para lançar, conjuntamente, dois livros e um DVD testemunhos da obra de Mário Cesariny. É já amanhã, e assim se celebrará o dia em que o autor completaria 84 anos. José Manuel dos Santos apresenta Poemas de Cesariny ditos por Mário Cesariny, um livro com o CD onde se reproduzem poemas gravados no Verão de 2006 e Miguel Gonçalves Mendes apresenta Autografia / Verso de Autografia o seu livro/ entrevista (com fotos de Susana Paiva) com o autor agora publicado juntamente com o DVD do filme distribuído pela Atalanta Filmes que arrecadou o prémio para Melhor Documentário Português no DocLisboa 2004.

Ironias Salazarentas

Não, com tanta edição livreira, com o seu nome tão alapado à livralhada que vai saindo, Salazar já não dorme, nem pode sequer descansar. Com tanto zunzun em torno do homem já não há sossego! Agora, o livro de Domingos Amaral, «Enquanto Salazar Dormia», vai ter edição no Brasil. Imagine-se, o ditador que nunca pôs pé fora do luso quintal, a viajar para terras de Vera Cruz em capa de livro! Mal fez o Marcelo Teixeira, da Oficina do Livro, que não quis pôr ao livro do Tiago Salazar («Viagens Sentimentais») o nome «Quo Vadis, Salazar?» - eram vendas garantidas!

Erva

É verdade. Agora, segundas-feiras à noite, lá estarei, sentado e obediente em frente à televisão aguardando que a RTP2 não desvirtue o horário de «Erva», uma das melhores séries de televisão que por aí andam.

Histórias Fulminantes 23

A caravana circense chegou à aldeia e todos convergiram para o local onde assentaram arraial. Palhaços, domadores, trapezistas, mágicos, equilibristas, malabaristas, cães amestrados e leões adocicados, elefantes sonantes e focas ambulantes, nenhum deles e nenhuma das muitas atracções conseguia, porém, rivalizar com o interesse que suscitou o homem mais forte do mundo, o homem que dizia ser capaz de levantar o Levante.

Outros Silêncios

«... era apenas um pouco de silêncio
o sol dançava entre os dedos
as rosas perturbavam o tempo.»

João Ricardo Lopes, «Os Dias Desiguais», Labirinto

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Ora Bolas!

Joe Berardo gatinhando o português no Jornal das Nove com Mário Crespo cada vez mais curvado para dentro de si, sorrindo no seu jeito de tartaruga. Ficámos a saber que o Comendador se acha amigo de um homem (Jardim Gonçalves) que, minutos antes, acaba de acusar de fraude e de crime de colarinho branco. E, claro, o Benfica também veio à baila por via do bailinho da Madeira em que o empresário madeirense se anda a meter com as acções do clube das águias.

Outros Silêncios

«Quando menino encompridava rios.
Andava devagar e escuro - meio formado em
silêncio.»

«Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anónimas -
passaram essa tarefa para os poetas.»

Manoel de Barros, «Compêndio para Uso dos Pássaros», Edições Quasi

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Gira-Discos - The Bongos


O nome deixa algo a desejar, é certo, mas tal não impede que se recomende atentíssima audição a esta edição especial (com 27 faixas!) do álbum de estreia dos The Bongos, uma das bandas mais activas no início dos anos 80 e precursoras da chamada música alternativa. Oriundos de Hoboken, New Jersey, os The Bongos são liderados por RichardBarone, que se faz acompanhar por Rob Norris, James Mastro e Frank Giannini. «Drums Along the Hudson» inclui ainda versões raras gravadas ao vivo e novas gravações de estúdio produzidas por Moby.