entre o silêncio e a noite
procura o poeta
nas entranhas das palavras.
diz...
qualquer coisa...
o silêncio de Deus que seja.
aos domingos
a fome das palavras agride
como o jejum pascal.
alegra-me
saber de ti
como quem reaprende a viver.
sim os vincos
que partilhamos
como cicatrizes.
a luz redime
nenhuma noite
te conduzirá à cruz.
não te deixes
como o poeta
preso ao frágil das palavras.
a palavra
único degrau
a preceder o silêncio.
a noite
alimenta-se
da sede dos poetas.
deixa que as tuas mãos
toquem os contornos da noite
ali perto moram os poemas.
o passado é uma história
que a mãe nos contou
num inverno já sem nome.
indício de aves
assim o teu sorriso
quando entraste para o avião.
não raro é da ordem da pele
a desordem que se acende
no coração.
como o verso
um corpo de mulher
nem sempre é fácil de dizer.
enquanto bebíamos o café
na esplanada as aves migratórias
partiam. era hora de regressarmos.
à mesa entre os dois
o silêncio pesava rigoroso
como o linho das toalhas.
o teu olhar
era então um porto distante
o meu um mar de sombras.
havia em ti
qualquer coisa de noite
talvez a luz excessiva no olhar.
ditas com o coração
as palavras são como o sol
cegam.
segunda-feira, 2 de junho de 2008
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