segunda-feira, 2 de junho de 2008

E agora para um momento poético

entre o silêncio e a noite
procura o poeta
nas entranhas das palavras.

diz...
qualquer coisa...
o silêncio de Deus que seja.

aos domingos
a fome das palavras agride
como o jejum pascal.

alegra-me
saber de ti
como quem reaprende a viver.

sim os vincos
que partilhamos
como cicatrizes.

a luz redime
nenhuma noite
te conduzirá à cruz.

não te deixes
como o poeta
preso ao frágil das palavras.

a palavra
único degrau
a preceder o silêncio.

a noite
alimenta-se
da sede dos poetas.

deixa que as tuas mãos
toquem os contornos da noite
ali perto moram os poemas.

o passado é uma história
que a mãe nos contou
num inverno já sem nome.

indício de aves
assim o teu sorriso
quando entraste para o avião.

não raro é da ordem da pele
a desordem que se acende
no coração.

como o verso
um corpo de mulher
nem sempre é fácil de dizer.

enquanto bebíamos o café
na esplanada as aves migratórias
partiam. era hora de regressarmos.

à mesa entre os dois
o silêncio pesava rigoroso
como o linho das toalhas.

o teu olhar
era então um porto distante
o meu um mar de sombras.

havia em ti
qualquer coisa de noite
talvez a luz excessiva no olhar.

ditas com o coração
as palavras são como o sol
cegam.

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