segunda-feira, 30 de junho de 2008
Histórias Fulminantes 92
Nas procissões em devoção à Virgem havia polícias por todo o lado. Houve quem se queixasse que era demais, mas houve logo quem discordasse e lembrasse o episódio do ano anterior quando na procissão a Nossa Senhora de Fátima se intrometeu um fanático xiita disfarçado de Nossa Senhora de Fatwa. O Senhor K. benzeu-se.
Novo Salazar
O maior trotamundos que já conheci, por ironias da história de sua graça Salazar, embora não Oliveira, vai lançar segundo tomo (ora toma) de crónicas no mercado nacional. Só parece é que o livro é da autoria de Miguel Sousa Tavares (autor, sim, do prefácio) e não do rapaz Salazar; oficinices de marketing, está de ver... que caia nas boas graças dos leitores eis o que se deseja. o lançamento é já no próximo dia 9, na fnac chiado, pelo fim da tarde e conta com apresentação de Baptista Bastos. Ora, é o bastante para se dar lá um pulo.
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Histórias Fulminantes 91
Era água corrente, foi, por conseguinte, natural que quando inundou a casa a tivesse transformado numa prisão. O Senhor K. arrepiou-se.
Prosema a um país merencório ou «dar de mamar tristeza aos filhos»
A propósito do humor ou do não-humor enquanto presença na literatura portuguesa, troco conversa emailográfica com Onésimo Teotónio de Almeida, nos States. E envia-me ele um notável poema sobre este lado obscuro e melancólico de ser das letras lusas. Publico o seu início, pedindo licença ao seu dono e retendo sobretudo a brilhante imagem «dar de mamar tristeza aos filhos»:
Prosema a um país merencório
Num pub em Cork um irlandês de rosto triste quis saber se Portugal era melancólico como parecia pergunta ad nauseam ouvida Europa e mundo fora Eu nunca sei bem como explicar esse raio de mistério misterioso do país do sol e mar azul de abraço mediterratlântico logo no berço dar de mamar tristeza aos filhos como se vivessem sob os céus cinzentos da Europa nortenha no longo inverno gelados no frio branco e os rodeasse um mar frígido cor de nuvens Reinventou António Sérgio a roda quando entendeu serem os nossos vates de antanho albergues de melancolia penumbra e mágoa por conta talvez da coita amorosa e de no palor das brumas se arrepiarem com os uivos da ventania pelas solidões nocturnas mundo e alma sobrevoada de medo torvo das emanações do sombrio Basta em relance desfolhar páginas roxas pois já Cesário dissera nas nossas ruas ao anoitecer há tal soturnidade há tal melancolia que as sombras o bulício o Tejo a maresia despertam-me um desejo absurdo de sofrer e é como se todos os dias fossem aqueles domingos terríveis de passar de Alexandre O'Neill o país todo nau dos corvos nau parada de pedra que tanto navega e há tanto está no mar sem nunca ao porto chegar de Ruy Belo ou o de Melo e Castro naquele fragmento de um mapa do lirismo português onde lágrima -lá rima com ama sobra um g de gosto tem um ri de riso amargo onde amar é gosto gasto E mil poetas rimaram com o Mário Sá-Carneiro do nada me expira já nada me vive nem a tristeza nem as horas belas de as não ter e de nunca vir a tê-las fartou-me até as coisas que não tive e com Reinaldo Ferreira contente nunca estou feliz não sei se existe alguém ou neste ou noutro mundo...»
Prosema a um país merencório
Num pub em Cork um irlandês de rosto triste quis saber se Portugal era melancólico como parecia pergunta ad nauseam ouvida Europa e mundo fora Eu nunca sei bem como explicar esse raio de mistério misterioso do país do sol e mar azul de abraço mediterratlântico logo no berço dar de mamar tristeza aos filhos como se vivessem sob os céus cinzentos da Europa nortenha no longo inverno gelados no frio branco e os rodeasse um mar frígido cor de nuvens Reinventou António Sérgio a roda quando entendeu serem os nossos vates de antanho albergues de melancolia penumbra e mágoa por conta talvez da coita amorosa e de no palor das brumas se arrepiarem com os uivos da ventania pelas solidões nocturnas mundo e alma sobrevoada de medo torvo das emanações do sombrio Basta em relance desfolhar páginas roxas pois já Cesário dissera nas nossas ruas ao anoitecer há tal soturnidade há tal melancolia que as sombras o bulício o Tejo a maresia despertam-me um desejo absurdo de sofrer e é como se todos os dias fossem aqueles domingos terríveis de passar de Alexandre O'Neill o país todo nau dos corvos nau parada de pedra que tanto navega e há tanto está no mar sem nunca ao porto chegar de Ruy Belo ou o de Melo e Castro naquele fragmento de um mapa do lirismo português onde lágrima -lá rima com ama sobra um g de gosto tem um ri de riso amargo onde amar é gosto gasto E mil poetas rimaram com o Mário Sá-Carneiro do nada me expira já nada me vive nem a tristeza nem as horas belas de as não ter e de nunca vir a tê-las fartou-me até as coisas que não tive e com Reinaldo Ferreira contente nunca estou feliz não sei se existe alguém ou neste ou noutro mundo...»
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Outros Silêncios
Mulheres cujos sorrisos escondem silêncios debaixo do olhar, abaixo do sangue, no dentro da pele. Filhos que adormecem por entre o silêncio dos dedos das suas mães. O silêncio do olhar quando enfrenta a rendição. O silêncio em chamas dos incêndios. O silêncio aceso nos olhos de dois inimigos frente a frente. As imperfeições e as impurezas do silêncio pairando no ar. O que resta do silêncio que deixamos por entre as dobras dos lençóis. O silêncio dos insectos nas crostas do verão. O silêncio sussurrando a sua solidão. O silêncio de uma mordaça de aço. O silêncio como sombra que o peito vai recolhendo. O silêncio enquanto lugar da mentira. O silêncio à voz da neve, ao ouvido das águas. O silêncio por entre as hortências junto às ruínas. O silêncio dos namorados aquando do reconhecimento dos cheiros. O silêncio dos frutos desfeitos depois da queda. O silêncio maduro do irremediável. O silêncio do Inverno que te arrefece o peito e faz morada no mais secreto das memórias. O silêncio das coisas sem nome. O silêncio desfeito em cacos. O silêncio que o espelho reflecte em certas manhãs. O silêncio da idade quando se acende nos corpos. O silêncio nocturno das cidades quando os camiões do lixo dobram o fim da rua. O silêncio das palavras nos teus lábios de água. O silêncio de partires sem te despedires do coração. O silêncio líquido das lágrimas que percorrem o abismo da tua ausência. O silêncio em cinzas sobre a terra queimada. O silêncio vivo no coração da alegria. A delicadeza do silêncio no passar do cisne. O táctil silêncio da escrita braille. O silêncio misterioso do nascimento e da morte das nuvens. O silêncio do povo ante o rei decapitado. O silêncio subserviente do povo perante o novo rei. O silêncio vítreo nos olhos do enforcado. O silêncio caindo as mãos, maduro, em polpa. O silêncio quase parado das procissões fúnebres. O silêncio extasiado diante do Belo e do Intemporal. A anatomia do silêncio quando ao comprido aguradando a dissecação. O contrato de silêncio entre os talheres e a toalha de renda branca em ocasiões especiais. O silêncio arrastado dos fantasmas quando pela manhã recolhem aos seus quartos. O silêncio como raiz de todos os medos. O silêncio dos sonhos de um surdo. O silêncio quando no teu peito vêm sossegar os pássaros. O silêncio percorrido dedo a dedo na linha da tua pele. O silêncio debruado a silêncios. O silêncio articulado das grandes engrenagens e dos planetas. Uma máquina de calcular silêncios. O silêncio gasto de tanto ver-se de um velho fabricante de espelhos. O silêncio oculto dos sentimentos desconhecidos. O secreto silêncio das secretas. O silêncio fóssil dos coleccionadores de fósseis. O silêncio calculado das negociações com terroristas. O silêncio maior da morte. O silêncio por vezes discutível de deus. O silêncio dos cretinos que discursam, discursam, discursam. O preciso silêncio das mãos arrancando os caules à terra. O silêncio dos oráculos fazendo seus cálculos. O redondo silêncio das coroas de flores. O pesado silêncio de velhos soldadinhos de chumbo. O silêncio enquanto pó sobre a mesa lá de casa. O doméstico e domesticado silêncio das mulheres.
O Problema dos Domingos
«Um domingo, no parque das imediações do Georgenäum, Hermann saltou para dentro da enorme fonte de pedra, imitando-o e, se a sua vizinha não andasse por ali, ter-se-ia afogado. Desde então, são amigos de Frau Ana.»
Eduardo Halfon, «O Anjo Literário», Cavalo de Ferro
Histórias Fulminantes 90
O Senhor K. achou que já não tinha nada a perder. A partir daí tudo o que encontrasse seria ganho. Porém, quando encontrou a morte pela frente, duvidou dessa verdade tão simples e evidente.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
domingo, 15 de junho de 2008
O Problema dos Domingos
«Interrogado pelo Expresso, o relator do inquérito admitiu uma quebra de fiéis nas missas de domingo compensada pela 'purificação', ou o aumento da qualidade, dos participantes...»
Frei Bento Domingues, «Público», 15 de Junho 2008
sexta-feira, 13 de junho de 2008
O Problema dos Domingos
«Triste é comprar castanhas depois da tourada entre o fumo e o domingo na tarde de Novembro e ter como futuro o asfalto e muita gente.»
Ruy Belo, «O Problema da Habitação»
quarta-feira, 11 de junho de 2008
O país segue dentro de momentos
o governo aconselha a escrita de poemas a duas mãos
o governo avisa que não pactuará com piquetes contra a poesia
os poetas por conta própria estão a paralizar o país
polícias investem contra poetas que querem impedir outros poetas de escrever
um poeta veio a falecer quando tentava escrever um poema
senão for abastecido de livros o país poderá ficar sem poemas já amanhã
poetas e versos já escasseiam na grande lisboa
reunião decisiva entre poetas e governo para decidir o fim da paralização
nos piquetes poéticos os ânimos têm-se exaltado (o que promete grandes versos futuros)
o país quase estagna devido ao aumento do livro de poesia
o presidente da república não sabe ler o problema
à cautela já há quem compre cinco a seis livros de poemas para o que der e vier
os poetas não admitem um preço do livro aqui e outro acolá
os poetas reclamam o verso profissional
filas com três quilómetros à entrada das livrarias um pouco de norte a sul do país
vale que o país se esquece
nos golos de deco e pepe
há quem admita recorrer à deco
há quem culpe a opep
o governo avisa que não pactuará com piquetes contra a poesia
os poetas por conta própria estão a paralizar o país
polícias investem contra poetas que querem impedir outros poetas de escrever
um poeta veio a falecer quando tentava escrever um poema
senão for abastecido de livros o país poderá ficar sem poemas já amanhã
poetas e versos já escasseiam na grande lisboa
reunião decisiva entre poetas e governo para decidir o fim da paralização
nos piquetes poéticos os ânimos têm-se exaltado (o que promete grandes versos futuros)
o país quase estagna devido ao aumento do livro de poesia
o presidente da república não sabe ler o problema
à cautela já há quem compre cinco a seis livros de poemas para o que der e vier
os poetas não admitem um preço do livro aqui e outro acolá
os poetas reclamam o verso profissional
filas com três quilómetros à entrada das livrarias um pouco de norte a sul do país
vale que o país se esquece
nos golos de deco e pepe
há quem admita recorrer à deco
há quem culpe a opep
Goleadas numerosas
Vivemos mesmo em tempo de vacas magras: os comentadores de futebol falam em goleadas quando se vence por três a zero, a associação de famílias numerosas faz-me saber que a partir de três filhos já se considera a família como tal...
Arte!
Pois ontem, na televisão, vi uns artistas residentes em Berlim e tal e tal e muito conceptuais e tal e tal, e muito incompreendidos e tal e tal, e foi também para eles que escrevi o meu «Sorriso de Mona Lisa» e tal e tal... Pois em matéria de arte espreitem:
http://www.youtube.com/watch?v=uuGaqLT-gO4
http://www.youtube.com/watch?v=uuGaqLT-gO4
terça-feira, 10 de junho de 2008
segunda-feira, 9 de junho de 2008
À conversa com Zeferino Coelho
«Já fui uma vez a Oslo, espero ir outra vez...»; isto em conversa sobre...
O Problema dos Domingos
«Mas hoje não, hoje não morra que é domingo... Sidónio sabe da rotina de Bartolomeu: Domingo é dia de janela...»
Mia Couto, «Venenos de Deus, Remédios do Diabo», Caminho
Mia Couto
Uma frase bonita do novo romance de Mia Couto: «A velhice é assim, faz noite a qualquer hora.»
Leituras Silenciosas - Mia Couto
«Venenos de Deus, Remédios do Diabo», já vos falei de raspão do novo romance de Mia Couto: um excepcional enredo em torno de um médico português por terras africanas atrás das saias de uma médica mulata conhecida num encontro de médicos em Portugal. Humor desconcertante, diálogos de se lhes tirar o chapéu, e sempre a mesma reinvenção do português no que é a mais avisada evidência de que qualquer ideia de um acordo ortográfico é um perfeito disparate. (P.S. Na foto, eu, André Sant'Anna e Mia Couto, numa escola da Póvoa de Varzim)
domingo, 8 de junho de 2008
Leituras Silenciosas - Leão Tolstoi
«- Nikita!
- Estou bem, sinto agora calor... - respondeu a voz de Nikita por baixo de Vassili Andréitch.
- Sim, irmão, sim... Eu vi a morte diante de mim. Tu estiveste quase a morrer de frio e eu também. - Mas as maxilas puseram-se-lhe de novo a tremer e os olhos encheram-se-lhe de lágrimas. Não pôde continuar.»
Ou a redenção do homem perante o confronto com a morte, segundo Leão Tolstoi (é assim mesmo a tradução adiantada), Leão em «Senhor e Servo», breve novel que a Europa-América acaba de editar nos seus livros de bolso. Com uma capa muito bonita.
- Estou bem, sinto agora calor... - respondeu a voz de Nikita por baixo de Vassili Andréitch.
- Sim, irmão, sim... Eu vi a morte diante de mim. Tu estiveste quase a morrer de frio e eu também. - Mas as maxilas puseram-se-lhe de novo a tremer e os olhos encheram-se-lhe de lágrimas. Não pôde continuar.»
Ou a redenção do homem perante o confronto com a morte, segundo Leão Tolstoi (é assim mesmo a tradução adiantada), Leão em «Senhor e Servo», breve novel que a Europa-América acaba de editar nos seus livros de bolso. Com uma capa muito bonita.
sábado, 7 de junho de 2008
O Problema dos Domingos
«Domingo. Ninguém trabalha no garimpo. (...) É o dia de Deus, ninguém trabalha. Dia de Deus e da polícia. O melhor dia para a pensão da cadeia melhorar dos seus hóspedes e alugar os seus quartos de janelas cruzadas...»
José Mauro de Vasconcelos, «Banana Brava», Melhoramentos
Rir ou chorar...
Na Bertrand do Chiado esteve em discussão, esta quinta-feira passada, o tema:
«A literatura portuguesa tem sentido de humor?». Não fui, não sei a que conclusões chegaram os conferencistas de serviço. Quanto a mim, respondo já: não. Nenhum, ou quase nenhum. Dois caminhos: se vamos pelos autores tidos como mais sérios e autorizados (Saramago, Lobo Antunes, Lídia Jorge, Peixoto, etc.) nem um vislumbre, alinham todos pelo negrume dos dias e o acre nas palavras; depois temos os outros, com humor subterrâneo, mas sem grande apreço de público (Mário de Carvalho - provavelmente o melhor de todos os escritores portugueses de hoje -, Jorge Sousa Braga, Rui Zink, Joaquim Castro Caldas) e já não recordo mais ninguém!). Outra coisa é saber se o panorama da literatura portuguesa faz rir. Aí, sim, e de que maneira. Basta olhar para os best-sellers e desatar a rir... Em suma, saudades do O'Neill.
Feira do Livro
Visito a Feira do Livro. Desço à Praça Leya e abismo-me. Olho e vejo uma rapaziada toda com camisolas dizendo Staff; penso para mim, nova editora no mercado? Afinal, não. Era mesmo só o Staff da Leya que depois de nos ter surpreendido na Póvoa do Varzim com os Smart passeando pela cidade as caras dos escritores, agora reunia o seu pessoal sob o nome de Staff - which is very international. Nada mais me surpreende, a não ser um «Estádio do Dragão» em desconto à venda por cinco euros (não sei se a acompanhar as tendências noticiosas negativas do mercado) e uma sessão de autógrafos do notável Gerónimo Stilton.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
GPS - Gente, o Padre Sumiu!
Pois é, qual Ícaro, este propulsionado a balões, há algumas semanas um padre voador (claro que não da cêpa do nosso Bartolomeu) desapareceu nos céus do Brasil. Diz-se que não levava GPS. Mas, curiosamente, foi isso mesmo que esclareceu o significado da sigla em terras de Vera Cruz e, por corolário do novo acordo ortográfico, presumo, fica também o mesmo a valer para «Portugáu». E o significado é: «Gente, o Padre Sumiu!».
Matilde e a Trofa
Ontem, tarde em casa de Matilde Rosa Araújo para atribuição do prémio do conto infantil da Trofa, que leva o nome da escritora. Boa conversa, algumas novidades literárias, a bonomia e simpatia da anfitriã, com idade para ser avó de quase todos nós, sobretudo literariamente falando. E pensar que há 30 anos frequentava eu uma escola que a escritora um dia visitou!
segunda-feira, 2 de junho de 2008
Venenos de Deus
«Venenos de Deus Remédios do Diabo», o título do novo livro de Mia Couto, a editar em breve, é um sério candidato a destronar «Mágoa das Pedras».
Mágoa das Pedras
O José Mário Silva, no blog O bibliotecário de Babel, considera, e bem, o título «Mágoa das Pedras», do livro de poesia de Joaquim Castro Caldas, o melhor título do ano até ao momento. Completamente de acordo. E lembro-me, a propósito, de outro título dele, também notável, saído há um punhado de anos, «Convém avisar os ingleses» (editado nas Quasi); creio que é assim, porque, oferecido pelo poeta quando trabalhámos juntos, foi, infelizmente, livro que não sei onde me foi parar... Seja como for, não deve o leitor ficar-se pelo título...
um amigo
chora no ombro onde pousa
o amigo é um violino
estimado, obstinado
mesmo se dorme ao colo aberto de pau santo
de alfinete paciente e carinho antigo
o virtuoso ausente
omnipresente como um príncipe
e prenhe do murro seco
no estômago do mundo
o amigo é um chicote de raios de sol
para sacudir e arejar o pólen ao corpo indefeso
ao coração inocente e sábio
e ao suor da planície
é um homem à rasca pelo que fez por nós
mas não disse, não disse
um amigo
chora no ombro onde pousa
o amigo é um violino
estimado, obstinado
mesmo se dorme ao colo aberto de pau santo
de alfinete paciente e carinho antigo
o virtuoso ausente
omnipresente como um príncipe
e prenhe do murro seco
no estômago do mundo
o amigo é um chicote de raios de sol
para sacudir e arejar o pólen ao corpo indefeso
ao coração inocente e sábio
e ao suor da planície
é um homem à rasca pelo que fez por nós
mas não disse, não disse
Joaquim Castro Caldas
Saramago vs Lobo Antunes
«Vai ser preciso que eu morra para haver outro Nobel português.» Quem o afirma é José Saramago no novo número da revista «Ler». Frase, está de ver, à Nobel. Curioso, mais adiante, é que Saramago diz nada ter contra António Lobo Antunes, o outro escritor português eternamente tido como candidato ao galardão sueco e que, há coisa de meses, disse qualquer coisa como nenhum escritor português me chega aos calcanhares... Vê-se como se prezam.
Joss vs Amy
Ontem, no Rock in Rio, fenomenal actuação de Joss Stone. A contrapor à miserável apresentação no dia anterior de Amy Winehouse. Estranho é que muita gente tenha achado piada ao facto de ter pago para ver a estrela «caminhar para o inferno» em cima do palco.
Rosa
É, era para a polémica. Mea culpa. Tem razão o leitor, donde que retiro o post. Todos podem jogar na selecção. Só o estilo metrossexual é que...
E agora para um momento poético
entre o silêncio e a noite
procura o poeta
nas entranhas das palavras.
diz...
qualquer coisa...
o silêncio de Deus que seja.
aos domingos
a fome das palavras agride
como o jejum pascal.
alegra-me
saber de ti
como quem reaprende a viver.
sim os vincos
que partilhamos
como cicatrizes.
a luz redime
nenhuma noite
te conduzirá à cruz.
não te deixes
como o poeta
preso ao frágil das palavras.
a palavra
único degrau
a preceder o silêncio.
a noite
alimenta-se
da sede dos poetas.
deixa que as tuas mãos
toquem os contornos da noite
ali perto moram os poemas.
o passado é uma história
que a mãe nos contou
num inverno já sem nome.
indício de aves
assim o teu sorriso
quando entraste para o avião.
não raro é da ordem da pele
a desordem que se acende
no coração.
como o verso
um corpo de mulher
nem sempre é fácil de dizer.
enquanto bebíamos o café
na esplanada as aves migratórias
partiam. era hora de regressarmos.
à mesa entre os dois
o silêncio pesava rigoroso
como o linho das toalhas.
o teu olhar
era então um porto distante
o meu um mar de sombras.
havia em ti
qualquer coisa de noite
talvez a luz excessiva no olhar.
ditas com o coração
as palavras são como o sol
cegam.
procura o poeta
nas entranhas das palavras.
diz...
qualquer coisa...
o silêncio de Deus que seja.
aos domingos
a fome das palavras agride
como o jejum pascal.
alegra-me
saber de ti
como quem reaprende a viver.
sim os vincos
que partilhamos
como cicatrizes.
a luz redime
nenhuma noite
te conduzirá à cruz.
não te deixes
como o poeta
preso ao frágil das palavras.
a palavra
único degrau
a preceder o silêncio.
a noite
alimenta-se
da sede dos poetas.
deixa que as tuas mãos
toquem os contornos da noite
ali perto moram os poemas.
o passado é uma história
que a mãe nos contou
num inverno já sem nome.
indício de aves
assim o teu sorriso
quando entraste para o avião.
não raro é da ordem da pele
a desordem que se acende
no coração.
como o verso
um corpo de mulher
nem sempre é fácil de dizer.
enquanto bebíamos o café
na esplanada as aves migratórias
partiam. era hora de regressarmos.
à mesa entre os dois
o silêncio pesava rigoroso
como o linho das toalhas.
o teu olhar
era então um porto distante
o meu um mar de sombras.
havia em ti
qualquer coisa de noite
talvez a luz excessiva no olhar.
ditas com o coração
as palavras são como o sol
cegam.
domingo, 1 de junho de 2008
PSD
Mas aquela senhora que agora vai liderar o PSD não é a mesma cujo ministério das finanças se mostrou inepto ao tempo em que fez parte do governo? Renovação? Respira fundo, Sócrates, respira. E fuma um às escondidas...
Dá-me ideia que isto vai ser uma barraca
Chega de bola; isto não é o mesmo país que atravessa uma crise como há muito não se vê? O que é que anda a fazer aquela gente toda histérica atrás de uma equipa de futebol?
Dá-me ideia que isto vai ser uma barraca
SIC em grande estilo de cobertura noticiosa, em torno das últimas andanças da Selecção em Portugal, ou porque é que por vezes renego esta condição de jornalista...
«Cristiano Ronaldo não terá entrado no autocarro... Fernando Meira fala ao telefone...»
«O avião que vai levar os jogadores de todos os sonhos...»
«Dá-me ideia que Cristiano Ronaldo e Nani entraram no autocarro...»
«Cristiano Ronaldo acena às câmaras...»
«Um autocarro que vai também cheio de uma aimbólica paixão...»
«A selecção nacional já não está neste hotel...»
Como se vê, tudo notícias de suma importância nacional.
«Cristiano Ronaldo não terá entrado no autocarro... Fernando Meira fala ao telefone...»
«O avião que vai levar os jogadores de todos os sonhos...»
«Dá-me ideia que Cristiano Ronaldo e Nani entraram no autocarro...»
«Cristiano Ronaldo acena às câmaras...»
«Um autocarro que vai também cheio de uma aimbólica paixão...»
«A selecção nacional já não está neste hotel...»
Como se vê, tudo notícias de suma importância nacional.
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