Competiu na 64ª edição do Festival de Cinema de Veneza, chega agora a telas portuguesas via Indie Lisboa, entre 24 de Abril a 4 de Maio próximos. «Na Cidade de Sylvia», de José Luis Guerín é um filme peculiar, com um ritmo e uma cadência muito próprios, um filme a que não se «acede» facilmente. Trata-se, para início, de um filme não falado, ou quase não falado. Diálogos são raros e o maior não excede poucos minutos. É pois um filme do olhar; quer por parte dos actores (e no seu caso também um filme de gestos), quer da parte do espectador. E por consequência também um filme de silêncios, mas, curiosamente, ou talvez por isso mesmo, em que os pequenos sons, os sons da cidade a «respirar», a «viver», se revelam tão importantes: o ruído dos eléctricos avançando, o som do autorádio de um automóvel quando passando, o burburinho sem nome dos cafés e das esplanadas, o som dos passos das personagens, o som de uma garrafa rolando pela estrada. Um filme, portanto, para os sentidos, um filme como se de fantasmas, de existências e vidas pressentidas. Tal como o protagonista (Xavier Lafitte), um jovem artista que parte para Estrasburgo em busca de uma mulher que não vê há seis anos, e que acaba por perseguir senão mulheres que imagina na pele daquela que procura, também o espectador acaba por colaborar nessa perseguição de um fantasma numa cidade em que tudo soa a opaco e vazio, a tal ponto que se chega a suspeitar da realidade das personagens. Quando crê ter encontrado Sylvia (Pilar López de Ayala) o protagonista parece apenas então cair na realidade, embora logo, logo submergindo numa atmosfera paralela de ausência, em que o filme também novamente se enreda e finaliza.
sexta-feira, 14 de março de 2008
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