quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Quanto a mim

é agora

agora vou deitar-me
não sem antes deitar as palavras
(nem sempre as mais dóceis acreditem - por regra
não se deitam antes da meia-noite)

quanto
às crianças já dormem respiram
inocência conforme podem (o francisco
constipado a alice com ouvido doen
do vasco hoje só reporto não querer comer
à excepção natural das barrinhas)

e eu neste banco
a teclar o que resta do dia
convocando os deuses da escrita mas
é como vêem
quase todos já dormem
ou então enroscam-se em concílio televisivo

valho-me assim do silêncio
que palavra a palavra
me indica o caminho

as costas queixam-se
os olhos germinam
o sono absorve-me

e é quando enceto o verso
que lembro os lanches ainda para preparar
bongo para um leite para outro
sandes com e sem manteiga
gorro casaco colete
carteira telemóvel chaves
e sopa para o rebento
que poderá passar a incorporar peixe
ou uma gema
de ovo mas sem clara

claro
como a clara está no ovo
e a verdade na voz do povo

portanto já depois da meia-noite
que é quando chego às palavras
(chegarei?)

portanto a desoras
de ir deitar
e para trás do sono deitar
este eu e outro tanto de nada

qualquer coisa
eu
aqui
deste lado
do poema que vacila

e cai
enfim
no silêncio
e nele se sacia

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