segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Histórias Fulminantes 73

Embora sempre distraído, o senhor K. não deixou de estranhar que naquela manhã tivesse sido o único passageiro a entrar no autocarro. Notou também que o condutor nem sequer se importou em verificar a validade do seu passe de transporte. Sentado, deixou-se ir nos seus pensamentos até que, seis paragens depois, e sem que pelo caminho mais ninguém tivesse entrado, finalmente a porta se abriu para ceder passagem a um segundo passageiro. Vestida de negro de alto a baixo, a estranha e cadavérica figura veio sentar-se justamente no lugar ao lado do seu. Não tardou a que o olhasse nos olhos e lhe dissesse tão-só: «O seu bilhete, por favor». Ao entregá-lo o Senhor K reparou então no número que lhe calhara em sorte: 666. Quando o autocarro subitamente parou, o Senhor K. olhou pela janela e nos seus olhos reflectiu-se um horizonte vermelho em fogo.

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