Ontem, referi aqui o lançamento do segundo álbum dos Editors. Hoje, mostro a capa do dito.
sexta-feira, 27 de abril de 2007
Jorge Silva Melo editou há poucos dias «Século Passado» (Cotovia), o seu notável livro de «memórias» e «viagens». É um livro de afectos, como só ele sabe pôr em palavras e mostrar. É o seu nome também que encontramos por trás das bonitas e singelas edições dos Livrinhos de Teatro, com o selo editorial da mesma Cotovia. Agora, vieram ter comigo mais um punhado desses pequenos objectos de culto dramatúrgico, sobretudo em palco editorial onde pouco vai sendo publicado na área. De um deles, «Hamelin», de Juan Mayorga, pode ainda ver-se a respectiva adaptação ao espaço deslumbrante da Cadeia das Mónicas, pelos Artistas Unidos. Vale a pena, muito. As interpretações são brilhantes, tal como desarmante é o trabalho de encenação num palco rarefeito de adereços. Teatro da palavra, do gesto, dos silêncios. Muito bom teatro.
Fui ao Festival Intercéltico, no Porto, em 1997. Recordo duas grandes noites com grande música (Ronda dos Quatro Caminhos, Sonerien, Du, Jac-y-Do, Berroguetto - a banda, espanhola, de que mais gostei, Pauliteiros de Malhadas e o também excelente Patrick Street, da Irlanda), duas noites de concerto prolongadas no jardim do Hotel Santa Catarina, sobretudo na gruta, onde igualmente se cantava e aconchegavam estômagos. Desde então, nunca mais voltei, mas a cada ano sinto vontade de voltar. Ainda não vai ser este ano, porque o Porto ainda não é aqui ao lado. Regresso, contudo, pela música gravada em disco, um disco que acaba de chegar ao mercado retrospectivando quinze anos de história de festividades celtas a Norte. «Festival Intercéltico - 15 Anos de Histórias» reúne vinte dos melhores temas que passaram pelas quinze edições do festival. Aqui as minhas faixas favoritas: «Verdes São os Campos», Uxía; «Passarinho da Charneca», Amélia Muge; «Domingo Ferreiro», Luar na Lubre; «Plantei Amores», Gaiteiros de Lisboa; «La Çarandilhera», Roldana Folk; «Menino do Mar», Frei Fado d'El Rei; e o fabuloso «Chin Glin Din», dos Galandum Galundaina. O Orlando, que é bom rapaz, ontem, ao ouvirmos o disco no carro, deu em armar-se em galinha com pele arrepiada, creio que foi no refrão de «Passarinho na Charneca». São pequenas coisas que aferem da qualidade de um homem.
quinta-feira, 26 de abril de 2007
Está já anunciado, para o próximo dia 25 de Junho, o lançamento do segundo álbum de originais dos Editors. «The Back Room» foi o notável disco de estreia, o novo trabalho chama-se «An End Has a Start». Gravado na Irlanda com a mão de Garret Lee e de Cenzo Towshend, Tom Smith afirmou tratar-se de um álbum mais mórbido e no qual se fala muito da morte. «Smokers Outside The Hospital Doors» será o primeiro single a ser lançado. Até que isso aconteça, aqui fica o site da banda para eventual visita. www.editorsofficial.com.
Conheço a Susana Neves. A Susana pinta e agora fotografa flores. Um trabalho belíssimo. Porém, o seu olhar não se contenta nem resume à mera «enunciação das espécies» fazendo-se valer de técnica fotográfica. Olhares que tais reservam-se aos caçadores de postais ou, as mais das vezes, aos fotógrafos amadores em busca de compêndios do género coleccionável onde a Natureza surge «devassada» em simplistas processos de elencagem e seriação. Bem distante desse posicionamento, nesta «Viagem ao Pólen Sul» aquilo que encontramos é o desejo de ir mais além desse realismo botânico que se fica pela rama. Se fotógrafos há que apenas captam a pele, outros há que captam o espírito e a alma. Susana Neves, declaradamente, radica-se neste último grupo. Sem um propósito inventariador, distante da mutilação laboratorial, a fotógrafa coloca-se aqui na posição do amador, daquele que, amando, ousa apenas, para desfrutar do belo e dar a conhecê-lo, uma aproximação delicada e respeitadora, de resto, a única via para entrar nos corações frágeis como são aqueles das flores. É por isso que recomendo visita aos originais, que vão estar patentes ao público durante todo o mês de Maio no Instituto Franco-Português (Avenida Luís Bívar, 91), em Lisboa. De segunda a sexta, entre as 10h30 e as 19h30, aos sábados, das 10h às 12h30.
Fui à Feira da Ladra e roubei umas imagens. Todos aqueles que fotografam são ladrões. Vale que a Polícia não anda atenta ao panorama da fotografia contemporânea. No mais, só não acho bem aquela onde o Benfica surge à venda, por quantos cêntimos não sei, não perguntei. Mas face às prestações actuais não devia ser coisa para mais de euro, euro e meio... Também acho mal aquilo do Eusébio antes do derby. Agora, é mais do que certo que nenhum árbitro vai marcar penalti contra a rapaziada vermelha com medo de alguma recaída... Acho mal.
E pronto, o Francisco já cá está connosco. Lindo - diz quem viu e o pai confirma. E também comprido, pés grandes (bom para um triplo saltador, diz o avô F.), nariz a sair ao da Alice, rosadinho (não demasiado), olhos claros. Chorou ao respirar, depois mostrou-se calmo o dia inteiro. Mamou muito bem e adormeceu. Enfim, tudo bem, tudo bem feito. É a natureza a desdenhar das nossas veleidades criativas. Na verdade, o que são um livro, um quadro, uma música, comparados com um bebé? Nada. Ínfimas aproximações à obra. Talvez por isso a felicidade dos criadores perante a obra feita jamais se aproxime do sorriso de um pai. Acho que me tiraram uma fotografia com um sorriso desses... Meio tonto, pois claro. Talvez também, por tudo isto, a mãe, as mães se riam com um ar de quem sabe a verdade profunda acerca do criar, coisa que os homens nunca saberão. Nessa matéria, «artistas» por natureza, as mulheres não têm de provar nada a ninguém. O poder está todo nelas. Há quem diga que por isso mesmo os homens sentem mais apetência pela conquista do poder material, como se, impedidos de criarem vida, tentassem a qualquer custo sentir a essência do poder criador (eventualmente, tentando imortalizar-se pelos actos e pelas conquistas), mas isso, isso só às mulheres está votado. As mulheres têm o poder, os homens precisam de inventá-lo. Acho que a mãe do Francisco sabe isso muito bem.
terça-feira, 24 de abril de 2007
Na semana passada, entrevistei Eunice Munoz, cerca de três horas antes de mais uma apresentação de «Dúvida», de John Patrick Shanley, no palco do Teatro Maria Matos. Por momentos, deixei de lado as palavras, entregues aos cuidados paliativos do Tiago Salazar, e dediquei-me a captar imagens da actriz.
«Salazar vence Grandes Portugueses.» «PNR deseja “boa viagem” aos imigrantes.» «”A verdade é irrelevante”, diz Supremo Tribunal.» «Santa Comba quer Museu Salazar.» «Musical «Salazar» estreia em breve.» Pois é, parece que ele anda por aí. Foi por isso que publiquei esta foto com o meu editorial no número 51 da Magazine Artes.
Quatro da tarde. Uma boa hora para este blog nascer. Mal-grado o tempo cinzento, mal-grado a leve dor de cabeça. Mais um a engrossar as fileiras da geração blog. Mais logo, às nove, dez, nasce o Francisco. A Alice está contente. O mundo hoje parece não pesar. E tudo o mais se desfaz de sentido. Como se um palhaço, vindo do nada, nos cruzasse o caminho e nos levasse para dentro da fantasia, roubando-nos aos problemas, às responsabilidades, aos deveres. Assim, como nesse desconcertante filme que ontem vi na programação do IndieLisboa: «Crickets», do realizador japonês Aoyama Shinji. Desconcertantes também, mas por outros motivos, «Le Dernier des Fous», de Laurent Achard, e «Night Songs», do alemão Romuald Karmakar. De «Fantasma», do argentino Lisandro Afonso, ja gostei menos - embora me tenha dado uma ideia para um conto; «A Obra e o Artista». O Francisco! A Alice! São horas!
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